PROMESSAS E FALÁCIAS
Não há volta a dar. Em tempo de eleições, os partidos que concorrem ao poder são obrigados a fazer promessas. E, salvo excepções à regra de que não temos conhecimento, todos os políticos exageram no que prometem. Com ou sem conhecimento de fundo sobre a realidade económica, social e política, via de regra, elevam ao limite as possibilidades de concretização de sonhos, adoptando a narrativa da mudança do ‘status quo’, com novas políticas. Ou repisam o discurso da melhoria da situação, no caso daqueles que concorrem ao poder que já detêm.
Acontece que, mesmo no jogo dos exageros, uns se mostram mais cautelosos que outros. Porque conservam a consciência de que a campanha pelo poder, ainda que seja um espaço de tolerância à mentira, não é propriamente uma arena de consagração do absurdo. E porque sabem que promessas declaradamente irrealizáveis têm probabilidade elevada de produzir efeitos perversos, num universo de eleitores cada vez mais esclarecido.
Dos programas já apresentados, dos dois principais partidos às eleições de Agosto, podem ser retirados dois exemplos que ilustram o caso das ‘promessas e falácias’. Em relação ao MPLA, a principal reticência até já foi por de mais questionada, considerando o facto de o partido dos ‘camaradas’ se ter adiantado na apresentação das suas ‘linhas de força’. E a dúvida em causa não seria outra senão perceber as condições reais de que o candidato João Lourenço disporá para combater a corrupção, em caso de vitória eleitoral. Com o estigma dessa perversão a manchar a imagem do partido pelas entranhas, o mínimo que se podia esperar, até da crítica menos informada, é a colação de verdadeiras dúvidas em torno do idealizado projecto de combate à corrupção, numa eventual era João Lourenço. Desde logo, porque uma verdadeira cruzada contra a corrupção implica a inversão completa de todo o esquema institucional no qual o Estado acontece hoje. Entre todas as medidas possíveis, implica de forma crucial a instituição de uma justiça que funcione, indiferente a níveis sociais, a cargos políticos ou a influências familiares ou de outro tipo. Por comparação, e excluindo as ‘zonas cinzentas’ do processo, uma campanha contra a corrupção cá, e após a declaração de uma tolerância zero como ponto de partida, passaria por copiar exactamente a maior operação que há memória, no mundo recente, de combate a esse flagelo, no caso a ‘Lava Jato’ da Polícia Federal Brasileira. No caso da UNITA, o exemplo mais sonante da falácia, no seu programa eleitoral, é a promessa de fixação do salário mínimo no equivalente a 500 dólares norte-americanos. É improvável que alguém tenha percebido que contas o líder da UNITA e a sua equipa terão feito. O mais certo, aliás, é que o próprio ‘galo negro’ não tenha ideia do significado dos números que promete, até porque é incapaz de os explicar com razoável clareza. Indiferentes à realidade económica actual, os ‘maninhos’ recuperaram uma promessa já vendida na campanha de 2012, altura em que os números da economia e as perspectivas mais imediatas permitiam sonhos mais ousados. Com os níveis de crescimento anêmicos que se projectam a médio prazo, e ainda que num eventual governo liderado por si a UNITA avançasse com reformas de fundo, continuaria a ser esquizofrénico considerar uma evolução do salário mínimo superior a 400% em cinco anos. E se alguém, por loucura, se atrevesse a fazê-lo por decreto, a consequência imediata seria a corrosão do emprego e o inevitável colapso da economia. É como já o dissemos: a campanha eleitoral não é definitivamente uma arena de consagração do absurdo.
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