Qual é a doença e a cura da economia angolana no curto prazo?
Podemos comparar a saúde de uma economia com a saúde de um ser humano. Para que uma economia seja considerada sã, é necessário que ela cresça ao nível potencial. Quando uma economia cresce abaixo do seu nível potencial, ela está doente.
O nível de crescimento potencial (PIB potencial) ocorre quando a economia faz um uso pleno dos seus factores produtivos (insumos na linguagem brasileira). Essa circunstância é também conhecida por crescimento de pleno emprego, isto é, não existe desemprego da mão-de- obra, do capital e de outros recursos de que a economia dispõe para gerar tal nível de crescimento.
A pergunta que um médico colocaria ao seu paciente seria: qual é a sua doença ou porque estás doente? Em termos económicos equivale: porquê estás a crescer abaixo do seu potencial? Uma vez que o crescimento potencial de Angola ronda actualmente os 9,0% ao ano, estamos a dizer que o crescimento real registado pela economia angolana, nos últimos anos, anda abaixo dos 9,0%.
No curto/médio prazo (um, dois ou três anos), uma economia pode tender a dois tipos de doença ou problemas: desaceleração e recessão.
Desaceleração é quando um carro que andava a uma velocidade de 100 km/h passa agora a andar a 80, 60, 40, 20km/h. O carro continua a andar, só que a uma velocidade cada vez menor. De taxas de crescimento real superior a 10% num passado recente, os dados oficiais mostram que a economia angolana cresceu 6,8% em 2013; 4,8% em 2014; 3,0% em 2015; 0,1% em 2016 e 1,1% em 2017. É evidente a desaceleração da economia angolana pelos dados oficiais, sendo que, em 2016, se atingiu mesmo uma estagnação (o carro ficou parado), pois, 0,1% é praticamente zero.
Recessão é quando o carro vai à retaguarda. A taxa de crescimento económico teria de ser negativa num determinado ano. Por outras palavras, a riqueza estaria a diminuir de um ano para o outro. Para o FMI, contrariamente àquilo que diz o Governo, em 2016, houve uma taxa de crescimento negativa na ordem de 0,7%, ou seja, houve recessão económica em 2016. Para os restantes anos enumerados acima, ainda que em percentagens diferentes, o crescimento foi também considerado positivo pelo FMI.
Repetimos a pergunta: que doença tem a economia angolana? Desaceleração ou recessão? Pelo exposto acima nos pontos i) e ii) a doença chama-se desaceleração. O FMI confirma, excepto para 2016.
Uma vez identificada a doença, a pergunta do médico seria: como apanhaste essa doença? Porque é que a economia angolana entrou em desaceleração?
Teoricamente, quando uma economia padece de desaceleração significa que existe um único problema: défice de gastos (não confundir meramente com gastos públicos), isto é, invés dos 1.000,00 kwanzas, por exemplo, que a economia tinha de gastar, ela está a gastar apenas 800,00 kwanzas, isto é, abaixo de 1.000,00.
A pergunta a seguir é: quem está a provocar esse défice de gastos? Para percebermos melhor a resposta, precisamos de olhar para a economia angolana como um carro que possui quatro motores, sendo que qualquer problema ao nível de um dos motores leva o carro a reduzir a velocidade (desaceleração). A desaceleração é ainda maior se houver mau funcionamento ao nível dos 4 motores. Quem são, afinal, esses quatro motores? São eles: i) investimento privado; ii) investimento público; iii) exportações; e iv) consumo privado.
Se olharmos para as Contas Nacionais divulgadas pelo INE em finais de 2016, veremos que alguns dos quatro motores chegaram mesmo a gripar entre 2012 e 2014. Os investimentos privado e público registaram, em conjunto, as seguintes taxas de crescimento reais: 7,2% em 2012; 1,7% em 2013 e -1,9% em 2014. O consumo privado teve o seguinte comportamento: 9,8% em 2012; 8,3% em 2013 e 3,0% em 2014. Finalmente, as exportações comportaram-se da seguinte forma: 5,2% em 2012; -1,2% em 2013 e -14,7% em 2014.
Pelos dados acima, está claro que os quatro motores principais da economia angolana estão a funcionar mal e, como consequência, o carro ou a economia angolana vem sofrendo uma desaceleração que o CEIC considera estrutural. Não precisamos de dizer aqui qual foi o comportamento destes motores em 2016 para concluirmos que registaram um comportamento pior. Infelizmente, a Proposta Orçamental de 2018 não dá sinais de melhoria destes motores, pelo contrário, continua a depositar esperança no motor das exportações (factor exógino) que dependem do petróleo. O baixo peso das despesas de capital e o preço de referência para o barril de petróleo são prova disso. Ceteris paribus, a economia angolana conserva o seu modelo, não está virada para a diversificação (muito menos das exportações) e continua a não ter planos de longo prazo.
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