ANGOLA GROWING
WALTER FAUSTINO, CAMPEÃO INTERNACIONAL DE JIU-JITSU

“Sou uma pessoa melhor graças às artes marciais”

11 Sep. 2017 Marcas & Estilos

ARTES MARCIAIS. A ideia era treinar jiu-jitsu para intimidar um pretendente da namorada. Mas, Walter Faustino, ou simplesmente ‘Lobão’, acabou por apaixonar-se pela modalidade. Hoje, soma mais de 20 títulos como campeão internacional. Aos 29 anos, criou o projecto ‘Pioneiro em África’ para ajudar crianças com necessidades especiais.

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Qual é o actual estado do jiu-jitsu em Angola?

O jiu-jitsu está tranquilo e saudável. Em termos associativos e federativos, estamos a organizar-nos. Conseguimos o espaço que sempre almejámos, temos mais academias, mais profissionais e pessoas a viver das artes marciais.

O que o incentivou a praticar jiu-jitsu?

Tudo começou há dez anos, na universidade. Havia um indivíduo que ‘andava atrás’ da minha namorada, que agora é minha esposa. Queria dar-lhe um arrepio e resolvi treinar. Mas depois esqueci-me desse ‘problema’ e passei a praticar com mais frequência.

Naquela altura, acreditava que a luta resolvia tudo?

Não conhecia a luta como conheço actualmente. Hoje, a luta significa muito. É um estilo de vida. E sou uma pessoa melhor graças as artes marciais.

O que o diferencia dos outros atletas?

Na realidade, não sei. Aliás, quando se fala de outros atletas exige comparação. Sou o único e prefiro não me comparar a ninguém. Sou a minha própria concorrência. Quando se está bem preparado psicologicamente raramente aparece alguém superior.

Qual é o segredo para tantas conquistas?

Se fosse para resumir; diria que é a vontade de vencer.

Qual foi a vitória/derrota de que não se esquece?

Não tenho derrotas marcantes. Vou para me divertir, e com o compromisso de dar o melhor de mim. Se perder, não relevo muito, dói mais quando perco e sinto que podia ter dado mais. Quanto à vitória, foi quando me tornei campeão mundial, em 2012. Foram muitos anos a espera disso.

Que dificuldades enfrentou para se tornar num atleta de sucesso?

Condições de treino, patrocinadores, material, falta de apoio da família que, na altura, não apoiava. Hoje, quase toda a família está a treinar incluindo o meu pai. Antes não tinha esse ‘feedback’. Diziam: «esse está maluco e frustrado». À medida que as coisas se foram tornando mais sérias, sentiram o dever de me proteger mais.

Sente-se uma referência para os mais novos?

Sinto que sou influência para os meus amigos e para todos aqueles que convivem comigo. Daqui há dez anos, vamos criar a maior geração de vencedores em Angola. Nesse momento, estamos a trabalhar com mais de 400 alunos, e cada um deles já consegue influenciar outras pessoas. Lancei o projecto ‘Pioneiro em África’ que consiste em dar aulas a pessoas com necessidades especiais. Tenho mais de 30 alunos com síndrome de Down e autismo. Daqui a quatro anos, pretendo abrir um centro de neurologia. Tudo isso porque o meu filho mais velho, de quatro anos, é autista.

É rentável investir em artes marciais em Angola?

Bem divulgado tudo rende. É bem mais fácil vender artes marciais em Angola do que no Brasil ou nos EUA, porque são mercados que já estão saturados. Os que têm dinheiro não pensam em investir nas artes marciais, Sentem que não é um negócio rentável. Lido com isso todos os dias, por isso criei a indústria das artes marciais em Angola.

Deixou a engenharia para se dedicar ao desporto. Foi a melhor opção?

Um dos principais motivos que me faz largar o emprego de quatro anos como engenheiro na Sonangol foi a necessidade de ter mais tempo para a família. Apesar de ter consciência de que iria ganhar menos. Nunca me senti arrependido.

Sente-se valorizado?

Claro. Há uma coisa que aprendi ao longo do tempo: não dá para ter uma postura de pedinte. Quando alguém pede muito, não é respeitado. Por isso é importante criar a auto-dependência.

Como o desporto pode influenciar a vida dos jovens?

A sociedade actual está doente. E uma das principais ferramentas que pode mudar o quadro é o desporto. Com o desporto, conseguimos ter bastantes benefícios, torna as pessoas mais tranquilas, equilibradas, com o nível de stress quase zero, autoconfiança acima da média. O que mais se pode fazer para a modalidade? O Estado devia investir no desporto escolar, ensinar os valores desde cedo, para, quando chegarem à idade adulta, se tornarem excelentes profissionais.

Que proveitos tem obtido?

Só no ano passado, as minhas academias resolveram mais casos de possíveis transtornos psicológicos, que os centros de psicologia em Angola. Alguns pais já se deram conta que as artes marciais conseguem moldar melhor do que qualquer consultório.

Como chegou a essa conclusão?

Tive a necessidade de levar o meu filho a esses centros de neurologia. É difícil aparecer e os que aparecem cobram 15 mil kwanzas por sessão, durante duas horas, quatro vezes por semana. Foi na vontade de procurar ajuda, na vontade de ter que trabalhar mais, criar ideias para poder pagar as contas que conheci essa realidade.

PERFIL

Nome: Walter Rúben António Faustino

Data de Nascimento: 11 de Outubro de 1987

Naturalidade: Luanda

Estado civil: Casado

Filhos: Dois

Títulos: 23 vezes campeão internacional

Um atleta: Orelho Zorzi