ANGOLA GROWING
BORGES MACULA, ACTOR E APRESENTADOR DE TV

“Talento não trabalhado ?é pedra atirada no escuro”

TELEVISÃO. Borges Macula lamenta a falta de “formação técnica” no cinema angolano, mas acha “normal” que o país produza apenas, em cada três anos, uma telenovela. Em entrevista ao VALOR, o actor e apresentador recorda a “incrível” experiência de ter vivido a personagem de um ‘angolano-brasileiro’.

Onde é que se sente melhor: a representar ou a apresentar?

É uma questão muito complicada de se responder porque amo as duas facetas. Amo este meu lado. Sinto-me bem nos dois lados. Não quero ficar sem nenhum dos dois, quero os dois e pronto... (risos).

É possível viver só dos trabalhos como actor em Angola?

É possível, se existirem trabalhos na TV (novelas, etc.) ou se a pessoa apostar seriamente numa carreira no teatro, com muitos espetáculos. Caso contrário, é uma utopia pura.

Todo o actor pode tornar-se num apresentador de televisão?

Não necessariamente. Depende do interesse de cada pessoa. Se tiver oportunidade, pode sim. Acontece em toda parte do mundo...

Para se ser actor, é necessário mais talento ou mais trabalho?

90 por cento de trabalho, 10 por cento de talento. Talento não trabalhado é uma pedra atirada no escuro para acertar numa manga ou numa árvore. Precisa-se mais do que talento. Muito estudo e muito empenho acima de tudo.

Em Angola, em média, é feita uma telenovela em cada três anos. Como olha para este registo?

É normal. Um dia fazemos mais...

Já alguma vez teve problemas (incidentes) na vida real por causa de uma personagem que representou?

Nunca. Espero não ter (risos).

Como é que se define enquanto pessoa?

Um pouco indeciso, sério e brincalhão ao mesmo tempo, estudioso e muito pacato. Amo planificar a vida.

O que é que falta à teledramaturgia angolana?

Formação técnica. E ao cinema de forma geral? Formação técnica também.

Quais são as suas referências no mundo da representação?

Denzel Washington, Nicolas Cage, Tony Ramos, Rodrigo Santoro e Wagner Moura.

Alguns dos grandes actores no mundo são ateus. Não teme que não consiga alcançar aquele nível, visto que menciona muito “a palavra de Deus”?

Talento é uma graça de Deus. Eu não seria o que outros são. Tenho os meus pés bem assentes no chão e amo estar e viver do meu jeito a palavra de Deus. Preciso de fazer mais. Mas sei que é preciso de mais ajuda de pessoas jovens como eu que sejam mais experientes na fé em Cristo Jesus.

Na telenovela ‘Minha Terra, Minha Mãe’, representou o papel de um angolano-brasileiro. Como foi essa experiência?

Foi incrível. Tornei-me actor mais reconhecido com esse projecto. Depois, foi apenas seguir e aplicar tudo o que aprendi no Brasil. Trabalhei com grandes nomes da teledramaturgia brasileira como Edwin Luisi e Cristina Prochaska. Sou feliz até hoje por esta grande oportunidade que tive através da TPA.

PERFIL

Licenciado em Química pela Universidade Agostinho Neto (UAN), Borges Makende Biqui Macula nasceu no Quimbele, Uíge, há 31 anos. É técnico médio em Bioquímica, solteiro e multifacetado, dividindo-se entre os trabalhos como actor, apresentador de TV, ambientalista, professor e activista social.