VENDA DE ÁGUA EM LUANDA

Um negócio rentável e com concorrência

ÁGUA. Aos tradicionais camiões-cisterna, vendedores de água adicionaram comércio com motorizadas de três rodas. Com preferência pelas zonas suburbanas, negócio é tido como “bastante rentável”, apesar das queixas de ‘concorrência desleal’ feita por quem vende “água duvidosa”.

Com o negócio da venda de água nas motorizadas, vulgarmente conhecidas por ‘kupapatas’, há quem esteja a facturar cerca de 400 mil kwanzas mensalmente. É o caso de Benilson Nguiaba, que pratica este negócio desde finais de 2014. Aos 20 anos, o jovem compra a água no fontenário e revende nos bairros, classificando o procedimento como sendo “bastante simples, mas muito lucrativo”.

Com um tambor ou pipa de mil litros, Benilson Nguiaba, residente no bairro da ‘Farmácia’, em Luanda, dirige-se a um fontenário. No local, enche o tambor, que permanece dentro da carroceria da motorizada, por 500 kwanzas. Em cada tambor cheio, ao revender a água, o jovem pode encher 50 bidões de 20 litros. Como cada bidão de 20 litros de água custa 75 kwanzas, na venda de 50 bidões, arrecada 3.750 kwanzas. Nos dias em que está “bem-disposto”, chega a frequentar o fontenário (para encher a pipa/tambor de mil litros) três a quatro vezes. Nestas ‘idas’ e ‘vindas’, como cada pipa rende 3.750 kwanzas, Benilson Nguiaba acaba o dia com 15 mil kwanzas no bolso. Como nunca trabalha aos domingos, os 15 mil kwanzas diários, multiplicado pelos 26 dias de trabalho, resultam em 390 mil kwanzas.

Para estes números, embora sejam agradáveis, Benilson Nguiaba não fica muito entusiasmado. Além dos gastos para encher a pipa de água, o jovem ainda tem de tratar da manutenção da motorizada e prestar contas com a patroa, ou seja, a dona da motorizada. A aquisição da motorizada, que ronda os 400 mil kwanzas, é outra situação a ter em conta neste negócio, além da compra da pipa/tambor de mil litros, que custa 12 mil kwanzas. Os vendedores de água têm também de lidar com “as complicações” dos polícias, pois boa parte deles conduz a motorizada sem ter obtido ainda a carta de condução.

A venda de água nas motorizadas é bastante comum nos bairros suburbanos de Luanda, sobretudo nas localidades onde a distribuição do líquido ocorre com dificuldades, como são os casos da ‘Sapu 1’, ‘Golfes I e II’, ‘Estalagem’, ‘Titanic’, etc.

NOS CAMIÕES-CISTERNA

Ao contrário dos usuários de motorizadas, que chegam a fazer quatro ‘viagens’ diárias, os ‘camionistas’ raramente conseguem encher e vender mais de duas cisternas por dia. Tudo porque, nos centros de distribuição e tratamento da Empresa Pública de Águas de Luanda (EPAL), as filas são longas e, por norma, os camiões de instituições públicas (bombeiros, administrações municipais, etc.) beneficiam de atendimento prioritário.

Para encher uma cisterna, dependendo do tamanho, os camionistas devem pagar um valor que ronda entre os três e os oito mil kwanzas. Tal quantia, no entanto, dever ser depositada na conta bancária da EPAL. Nos centros de distribuição e tratamento, só recebem os ‘bordereaux’.

Em última instância, aceita-se que o pagamento seja feito por via de um cartão multicaixa. Em média, os camionistas ficam três a quatro horas na fila dos centros de distribuição e tratamento para encher a cisterna, através de mangueiras altas ligadas directamente ao depósito de água do camião. Arlindo Mafuta, por exemplo, é ajudante de camionista, cabendo-lhe, entre outros aspectos, a missão de auxiliar o motorista na hora de acertar o depósito do camião com a ‘girafa’ – mangueira pela qual a água passa, saindo do centro de captação para a cisterna.

No centro de distribuição e tratamento do Kikuxi, em Luanda, Arlindo Mafuta e o seu chefe pagam três mil kwanzas para encher uma cisterna de 15 mil litros, que, por sua vez, é revendida a 17 mil kwanzas. Quando não surge um cliente disposto a comprar todos os 15 mil litros da cisterna, o que ocorre com frequência, opta-se por vender “uns litros aí, outros litros aqui”, explica Arlindo Mafuta, que, apesar de não negar que o negócio “rende bem”, lamenta a existência de uma concorrência desleal. “Nós compramos e vendemos água potável, mas há uns que vendem água da lagoa, mentindo que é água tratada.