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Um pacto para África

20 Mar. 2017 Sem Autor Opinião

A globalização está a ficar cada vez mais malvista no Ocidente. Os movimentos populistas alegam que não beneficia o cidadão médio, se é que o faz. Em vez disso, defende o proteccionismo e o unilateralismo. As políticas nacionais, no que diz respeito à regulamentação comercial ou financeira, são vistas como o caminho mais seguro para restaurar a grandeza nacional.

Mas essa agenda populista baseia-se na premissa, profundamente errada, de que a cooperação e o comércio internacionais são jogos de soma zero, produzindo apenas vencedores e perdedores. De facto, a cooperação e o comércio podem trazer benefícios para todos os países. Por muitos anos, aumentaram a segurança e a prosperidade globais, com centenas de milhões de pessoas a serem tiradas da pobreza, tanto no mundo desenvolvido como nos que se encontram em vias de desenvolvimento.

Certamente que a Globalização precisa de regras e de um quadro reconhecido que beneficie todos, proporcionando um crescimento económico sustentado e inclusivo. É um quadro que requer ajustamentos constantes. Abandoná-lo completamente é resposta errada. Pelo contrário, devemos procurar formas de aprofundar e alargar a cooperação económica internacional.

O G20 é o melhor fórum para uma cooperação mais ampla e inclusiva. É claro que o G20 não é perfeito, mas é a melhor instituição para alcançar uma forma de globalização para todos. Através dele, os principais países industrializados e emergentes podem trabalhar juntos para construir uma ordem global compartilhada que possa gerar uma prosperidade crescente. De facto, o G20 é a espinha dorsal de uma política que visa uma arquitectura financeira global que assegura mercados abertos, fluxos de capital ordenados e uma rede de segurança para países em dificuldades.

O G20 alcamçou muito nos últimos anos, incluindo uma melhor coordenação da regulamentação financeira e da tributação internacional. E, como país que detém a presidência do G20 este ano, a Alemanha está empenhada em continuar o importante trabalho iniciado pelos antecessores mais recentes, a China e a Turquia.

É preciso fazer mais para fortalecer a resiliência da economia global contra choques repentinos. Assim, uma das principais prioridades do G20, este ano, será evitar a repetição de uma crise financeira e económica global como a de 2008-2009, que decorreu de um modelo de crescimento míope, baseado na dívida.

Mas, para enfrentar o abismo entre os países mais ricos e os mais pobres, precisamos ir além do G20. Em particular, o G20 - e de facto o mundo todo - deve ‘abraçar’ África neste momento crítico do desenvolvimento do continente.

Além da questão moral para elevar o nível de vida dos africanos, o desenvolvimento do continente é crucial para reduzir riscos geopolíticos. Mas o investimento em África ainda é baixo, privando as pessoas de oportunidades para melhorar suas vidas.

Por estas razões, o G20, durante a presidência alemã, trabalha para intensificar a sua parceria com a África. Um pilar central deste esforço é o ‘Pacto com África’, que fornece um quadro para apoiar o investimento privado, incluindo infra-estruturas. Propomos que, com o apoio político do G20, os governos africanos, as organizações internacionais e os parceiros bilaterais preparem acordos de investimento abrangentes e específicos para cada país que incentivem o sector privado. Cada país deve implementar um pacote de medidas que diminua o risco nos investimentos.

Essencialmente, o ‘Pacto com África’ é uma contribuição para a implementação da Agenda 2063 da União Africana (UA) para o desenvolvimento económico. A agenda da UA deve fornecer orientações para melhorar os quadros macroeconómicos, empresariais e financeiros em todo o continente.

O ‘Pacto com África’ está aberto a todos os países africanos, Cinco já se comprometeram a ser pioneiros nesta nova abordagem: a Costa do Marfim, Marrocos, Ruanda, Senegal e Tunísia querem trabalhar em pactos e expressaram isso por escrito . Convidei-os a participarem na reunião dos ministros das Finanças e dos governadores dos bancos centrais do G20, a semana passada, em Baden-Baden.

Nessa reunião, os colegas do G20 e eu oferecemos, a esses países, uma plataforma internacional para apresentar os seus planos. Queremos discutir com eles e com os líderes dos Banco Africano de Desenvolvimento, do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional que acordos específicos de investimento devem ser propostos para cada país.

Posteriormente, estes cinco países, juntamente com organizações internacionais e parceiros bilaterais, vão seleccionar as medidas e instrumentos específicos a incluir em cada pacto de investimento individual. O G20 vai proporcionar uma grande visibilidade política, ajudando a despertar a consciência dos investidores sobre essas mudanças. Estou confiante de que poderão ser alcançados progressos significativos quando todos os parceiros envolvidos trabalharem em estreita colaboração e em pé de igualdade.

A cooperação internacional é a única forma de alcançar um crescimento global forte, sustentável, equilibrado e inclusivo.

A Alemanha está empenhada em fazer o seu melhor como um corretor honesto dentro do G20, garantindo que a globalização realmente seja para todos.

 

Ministro das Finanças da Alemanha desde 2009 Ex-ministro do Interior nos governos de Angela Merkel (2005-09) e Helmut Kohl (1989-91) Ex-presidente da Alemanha