Agências de viagens com a 'corda na garganta'
Turismo. Só a Aavota contabiliza 250 empresas fechadas e mais de 2.000 desempregados desde Março do ano passado. Associação exige a atenção do Governo e alerta que as agências não têm condições para honrar com compromissos fiscais.
O secretário-geral da Associação das Agências de Viagens e Operadores Turísticos de Angola (Aavota), Augusto Pedro, estima que dificilmente as suas afiliadas pagarão o Imposto Industrial referente a 2020, por causa da total paralisação do sector que se verifica desde Março do ano passado.
O líder associativo afirma que a capacidade económica dos clientes baixou drasticamente, algumas agências de viagens, guias turísticos, assim como restaurantes e hotéis são micro e pequenos negócios e, desde esta data, estão fechados. "Por isso, não sei como será pago o Imposto Industrial de 2020”, lamenta Augusto Pedro, sem, no entanto, conseguir estimar o valor médio pago em Imposto Industrial.
“Não temos os números do pagamento do Imposto Industrial, mas asseguro-lhe que tínhamos agências que facturavam um milhão de kwanzas por mês, ao passo que as mais expressivas, ou seja, as de grande dimensão, podiam facturar à vontade entre dois e quatro milhões de kwanzas”, calcula, manifestando-se preocupado com as possíveis consequências pelo não pagamento do imposto.
“É preciso saber se atrasar o pagamento de impostos acarreta diversos prejuízos para as agências de viagens e para todas as empresas do turismo, uma das quais é ter que se submeter a multas e taxas de juros altíssimas e outra desvantagem é a dificuldade em conseguir novos empréstimos ou linhas de crédito para o seu negócio”, sublinhou, acrescentando que “as perdas serão drásticas, irreparáveis, e levarão muito tempo de recuperação”.
O executivo da Aavota calcula que “as agências ainda abertas estejam com uma facturação abaixo dos 5%”. E mais grave ainda é que “os investimentos, de uma maneira geral, continuam paralisados e os equipamentos estão a deteriorar-se, devido à ausência de apoios à tesouraria das empresas”.
Destacando que “os players do sector estão à deriva”, Augusto Pedro espera, no entanto, que o processo de vacinação em massa contra a covid-19 venha contribuir para o reinício do turismo. “O turismo não pode esperar”, acrescenta o responsável, lembrando palavras do secretário-geral da Organização Mundial do Turismo, Zurab Pololikashvili.
“A situação provocada pela pandemia leva a uma insolvência geral da maioria dos associados”, insiste o responsável da Aavota, lembrando que, “reduziu a circulação rodoviária, paralisaram os autocarros e os voos, dos poucos da companhia de bandeira estão com preços extremamente elevados”. Nesse contexto, acrescentou, “não há facturação e assim o funcionamento das agências de viagens se torna incomportável”.
A Aavota tem o registo de 250 agências encerradas e mais de 2.000 desempregados. Segundo Augusto Pedro, “o Governo deve olhar para o turismo como um sector estratégico da economia”, porque, “para lá da empregabilidade, concorre para a arrecadação de receitas. Mas, ao ser negligenciado, deixa de honrar os compromissos fiscais e perde o Estado”.
Segundo o líder associativo, um dos grandes entraves foi sempre a falta de vontade política do Governo. “Há um plano director do turismo e um plano operativo bem concebidos, mas, no meu ver, só sairão do papel, havendo vontade política, que levará a que as coisas aconteçam de forma natural. Espero que o Executivo olhe para o turismo de forma diferente para que dê passos quantitativos e qualitativos”, observou.
ALÍVIO ECONÓMICO
Augusto Pedro olha também para a necessidade de um alívio económico como crucial para tirar as empresas do sufoco, defendendo que, “para a retoma do turismo em Angola, será necessário um plano estratégico de alívio económico e fiscal para acudir às empresas, sobretudo as agências de viagens”. Aponta ainda que o plano deve conter a redução da carga fiscal, aprovar o perdão do imposto industrial de 2019, que deveria ser pago em 2020, e o perdão do imposto de 2020 para todo o sector do turismo por força da covid-19”.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...