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A HORA DA VERDADE

José Eduardo dos Santos levou os seus auxiliares ao Moxico, na semana passada, para analisar a economia nacional e local. Foi, seguramente, a deslocação do Presidente da República para o interior mais ‘apertada’, desde 2002. Desde o alcance da paz que José Eduardo não carregava, na bagagem, uma mala cheia de más notícias, sempre que deixou Luanda para ver o que acontecia no resto do país. Até 2008, altura das primeiras eleições legislativas pós-guerra, as bagagens transportavam esperança, veiculada na mensagem oficial da reconstrução de pontes, de estradas, de infraestruturas escolares e sanitárias e na aplicação de investimentos públicos diversos. Protegido pela mediatização do passivo da guerra, o discurso oficial resistia a qualquer crítica, com a mesma firmeza com que desprezava a contestação de quem, no passado, se posicionara ‘do lado errado da história’. Nos quatro anos seguintes que culminaram com as eleições de 2012, nas viagens pelo país, as malas do Presidente continuaram a ser enchidas de uma esperança que, enfraquecida pelo fracasso das promessas de 2008, se aguentava pelo benefício da dúvida, introduzido pela crise de 2009. É desta forma que acabaram ‘desculpados’ , por exemplo, os incumprimentos do programa de um milhão de casas. O factor surpresa da queda abrupta do petróleo, no fim da década passada, serviu de pretexto para o Governo ‘exigir’ remissão, atribuindo responsabilidades à sua condição de inexperiente.

Curiosamente, em 2014, é o mesmo petróleo que volta a colocar em cheque a veracidade das desculpas do passado, com a agravante de ser impossível, desta vez, invocar o factor surpresa tão-pouco a condição de inexperiência absoluta.

É assim que José Eduardo dos Santos, acautelado sobre a invalidade das justificações do passado, optou por abrir a mala, no Moxico, e ofereceu um país gerido “num ambiente extremamente difícil”, com o crescimento da economia a diminuir “drasticamente”.

Mas, desta vez, o pedido de indulto saiu de outra forma. O Presidente pediu “compreensão” para a situação que se vive, porque sabe o que está em jogo. Os cofres do Estado secaram e a Sonangol, num longo intervalo, deixou de produzir ‘ovos de ouro’. Passaram, pelas contas do chefe de Estado, seis meses, sem que a petrolífera pública canalizasse recursos para o Tesouro. Os empréstimos passaram a ser mais difíceis, porque, além dos níveis proibitivos dos juros, há limites legais de endividamento que não podem ser ultrapassados. A ajuda do Fundo Monetário Internacional não é a alternativa aconselhada, nesta fase, porque as eleições se aproximam e o Governo terá de inventar gastos para mostrar alguma obra. Que têm de ir além da requalificação do Sambizanga. Há mesmo muito “trabalho a ser feito, e o mais depressa possível, sob o risco de não cumprimentos de prazos”.

Por enquanto, é impossível estimar até que ponto o pedido de “compreensão” do Presidente foi aceite. Sobra, no entanto, uma certeza. Saber-se-á num momento que está cada vez mais próximo.