ANGOLA GROWING

País de brancos?

18 Mar. 2016 Emídio Fernando Opinião

Mais uma vez o povo, no Brasil, saiu à rua. Os números não coincidem. Uns dizem que só em São Paulo foram quase um milhão e meio. Outros apontam para números mais baixos. O protesto contra a liderança do PT foi reforçado pela detenção do antigo chefe de Estado, Lula da Silva, acusado de corrupção.Foi mais um motivo para se gritar contra quem governa, os sucessores de Lula.

 

Seja como for, mais uma vez, a presidente Dilma Roussef enfrentou o povo em fúria. Mas resta a saber qual povo. Olhando para as imagens, percebe-se a dimensão da manifestação, mesmo que tenha sido usada a clássica manipulação: concentração de pessoas em ruas estreitas para dar uma imagem de dimensão bem maior do que, de facto, é. Portanto, foi enorme. Mas quando se faz um 'zoom' sobre os manifestantes fica-se com a estranha ilusão de que o Brasil é apenas um país composto por brancos. Quase não se vê um negro num país que tem apenas o segundo maior número de negros no mundo a seguir à africana Nigéria.

Percebe-se assim pelo quadro social que é descrito pelos estudos que quem protesta contra a Dilma Roussef é quem se encontra bem na vida, a classe média e alta. Os outros, os 'favelados', sabem bem o que significou a política social de Lula, primeiro, e Dilma depois.

É a segunda vez que chamo a atenção para este fenómeno sociológico brasileiro. Só que, desta vez, ganha uma outra dimensão. No meio dos protestos, via-se saudações nazis, encontravam-se apoiantes da chamada extrema-direita que resolveram também 'dar a cara', e ainda surgiram outros defensores da ditadura brasileira agora contra a presidente que eles próprios tinham prendido há décadas. Mais assustador ainda foi o sinal dado por militares - os tais que apoiaram a ditadura – a querer que podem agir à força caso Dilma Roussef e o PT não saiam do poder.

Ao contrário do que se imagina, a ameaça não diz unicamente respeito aos brasileiros. Uma viragem para um sistema mais duro afecta todos. Em especial, Angola que mantém negócios com o Brasil e os milhares de angolanos que por lá vivem.