ANGOLA GROWING
Rose Palhares com brilho internacional

“As peças que crio carregam mensagens importantes”

MODA. Rose Palhares foi a estilista oficial da colecção da Mastercard para o Festival de Cannes 2017. Vestir uma peça confeccionada por ela “é uma experiência indescritível”, considera. Acredita que a moda, para ser auto-sustentável, precisa de pelo menos cinco a oito anos.

 

Quem é Rose Palhares?

Uma mulher que nasceu com o sonho de se tornar a maior estilista da sua época porque acredita que, através das suas criações, consegue mudar mentalidades.

E como entra nesta área?

Desde muito nova, sempre soube que seria estilista. Cresci em volta deste desejo e alimentei-o através dos estudos. Formei-me no Brasil, em Design de moda, e comecei logo a exercer a profissão em Angola. Do Brasil, saío com a minha primeira coleção, que confeccionei durante o último ano da faculdade.

Como surge o convite para apresentar uma coleção exclusiva em Cannes?

No ano passado, estive em Cannes para o ‘Cannes Fashion Festival’ e, depois de desfilar, tive a oportunidade de estar presente no ‘red carpet’ (tapete vermelho), pelo que chamei a atenção de um dos parceiros do Festival, Emanuel Conceição, angolano residente em Milão, Itália. Meses a seguir, fez o convite para me tornar estilista oficial da coleção da Mastercard para o festival de Cannes.

Que novidades apresentou em Cannes?

Preocupei-me em entender o que os meus clientes procuravam. Desde cores mais procuradas, tamanhos, modelos e nacionalidades. Após vários meses de pesquisa e de ‘brainstorming’, fizemos uma coleção em que conseguimos mostrar um pouco da Rose Palhares, desde o início da carreira.

Durante o Cannes, recebeu propostas para vestir alguma celebridade?

Não! Masa BellaHadid solicitou o meu cartão, porque adorou a peça exposta na entrada do Hotel Majestic, onde ela esteve hospedada. De qualquer forma, a coleção destinou-se exclusivamente às convidadas da Mastercard.

Como define a moda que cria?

As peças que crio carregam mensagens importantes para quem as veste. Mas preocupo-me principalmente em vestir mulheres que trazem algo a mais para esta vida. É muito importante para mim, crio sempre dentro do clássico, surpreendente e intemporal. As clientes facilmente descodificam a mensagem assim que se vestem.

Nas últimas edições da revista ‘Gala Croissete’, afirmam que ‘reinventa o corpo feminino’. Como explica?

Vestir Rose Palhares é uma experiência, é indescritível… O ‘feedback’ que recebi das clientes, nestes dias, foi incrível. Elas sentem-se deslumbrantes, que as pessoas olham para elas de outra forma. É o que quero. Quem veste Rose Palhares não passa despercebida. E não apenas pelas cores. A simplicidade também chama atenção.

Em 2016, foi considerada a designer “mais interessante” pela Vogue Itália. E no mesmo ano a Elle South África apresenta-a como uma das 5 designers mais promissoras. O que representa para si?

O reconhecimento é tudo. Saber que a bíblia da Moda e a revista Elle reconhecem o meu trabalho não tem preço.

Como foi a experiência da estreia no ‘Moda Lisboa’, com a coleccão ‘Kissfrom Rose’.

Foi uma experiência muito boa, já desfilei em imensas passarelles e posso dizer que cada uma tem algo especial. O moda Lisboa mostrou-me que podia chegar onde eu quisesse. Senti-me muito bem recebida e a coleção foi muito aclamada.

Qual é o poder da moda?

O que o designer quiser. Nós podemos tudo quando criamos, e isso é ser artista. E a arte não tem limites.

No processo criativo, quais as principais referências que tem em conta?

Cores e qual o grau de crescimento para onde me dirijo. A moda que eu faço é só minha; o processo que adapto é criado para as minhas necessidades e da minha equipa; adoro o que faço e tento aprender tudo para poder fazer do meu jeito, a 100%. Dois ou três exemplos de peças que lhe tenham dado um especial prazer em criar. Todas, mas a coleção ‘África às Riscas’, os ‘T-dresses’ e a minha coleção de Cannes de 2016 são as que até hoje me enchem de orgulho.

Quais as experiências mais marcantes na sua trajetória?

A minha primeira cliente, a minha primeira passarelle, o meu primeiro prémio, a minha primeira Vogue e o meu primeiro Cannes.

E os desfiles?

O primeiro desfile no Moda Luanda em 2013 marcou-me imenso, foi a minha primeira vez. Estava super nervosa, mas sabia exactamente o que tinha de fazer e como fazer. Estava no meu habitat natural. Outro desfile que me deu imenso gosto foi o meu primeiro ‘Angola Fashion Week’ em 2015. Fui reconhecida com o prémio de estilista internacional, foi muito bom.

Qual foi o pedido mais extravagante que um cliente já lhe fez?

Nenhum. As clientes que vêm ter comigo sabem bem o que encontrar. Elas procuram a Rose Palhares porque sabem exactamente o que querem ou que sairão satisfeitas do nosso atelier.

Quais as principais dificuldades nesta área?

A maior responsabilidade de um designer é de arranjar soluções, isto sim é função um designer. No meu caso, arranjo sempre. Já estive em momentos que não haviam tecidos de qualidade, não haviam entretelas, faltavam fechos... Mas criar implica contornar obstáculos e concretizar ideias.

A moda em Angola já é auto-sustentável?

Não, ainda não. Este negócio, para ser auto- sustentável, precisa de pelo menos cinco a oito anos. É preciso que haja uma toda indústria à sua volta. Infelizmente, ainda não atingimos esse patamar. Mas, definitivamente, para lá caminhamos.