Bancos compram 6,4 mil milhões de euros, mas necessidades persistem
DIVISAS. Actualização do mapa consolidado de divisas do banco central, até à segunda semana de Junho, revela que já foram vendidas mais da metade do total de divisas dos leilões de todo ano passado. Até Dezembro, valor pode ficar 39% acima do volume libertado em 2016, se BNA mantiver o ritmo dos leilões e volume de ‘notas’. Cifra ‘engorda’ mas não reduz fila de solicitações por particulares nos balcões.
Os bancos comerciais já absorveram, do Banco Nacional de Angola (BNA) e de vários clientes, 6,4 mil milhões de euros, de Janeiro até à segunda semana de Junho, valor equivalente a mais de metade do total de divisas cedidas no ano passado, de acordo com cálculos do VALOR, com base no mapa consolidado de divisas e nos dois últimos relatórios do leilão do banco central.
Até Maio, o BNA já tinha ‘despachado’ 5.930,38 milhões de euros, para vendas diversas, mas dentro do programa de prioridades definidas pelo Governo e pelo conselho de administração do banco central.
Ao montante de Maio somaram-se mais de 520 milhões de euros, dos últimos dois leilões de divisas, perfazendo 6,4 mil milhões .
Este montante, que corresponde a mais da metade do volume recolhido pelos bancos no passado, pode fechar o ano acima das margens de 2016, a avaliar pelo ritmo de colocação de divisas pelo banco central e pelo que já se vendeu antes de fechar o semestre. Ou seja, se o BNA mantiver o volume de divisas e a frequência dos leilões dos últimos cinco meses e duas semanas, o total de divisas deste ano andará, até Dezembro, mais 39% contra o contabilizado em todo o ano passado. No mapa consolidado de vendas de divisas, o banco central não especifica as entidades bancárias que participaram dos leilões, nem o percentual distribuído individualmente, além de omitir o ramo de actividade ou de serviços que mais divisas ‘reclamou’ ao longo dos primeiros cinco meses e meio do ano.
Os 6,4 mil milhões de euros colocados no mercado cambial pelo BNA e por clientes diversos dos bancos não estão a cobrir as necessidades do mercado, a avaliar pelo volume de solicitações de divisas que vários particulares deixam ficar ao balcão dos bancos, como relatam várias fontes bancárias.
Ao volume de solicitações de divisas somam-se as restrições na emissão e concessão de cartões de débitos e créditos da rede Visa e Mastercard, para pagamentos internacionais. Um caso também confirmado ao VALOR por assistentes comerciais e de balcão de instiuições bancárias.
DIVISAS MAIS DIFÍCIES
Apesar de o volume de moeda estrangeira vendida estar a caminhar em ritmos mais acelerados do que no ano passado, os valores ainda não cobrem parte das necessidades dos bancos, desde pedidos de clientes particulares e pequenas empresas, às necessidades de pagamento de bens e serviços no estrangeiro.
A pressão sobre as divisas vem por todos os quadrantes. Nem mesmo com o apoio das casas de câmbio e operadores de remessas, que já recebem com regularidade divisas do banco central, a situação ficou equilibrada. Os balcões, são vários os clientes que procuram saber sobre as actuais condições de acesso à moeda estrangeira, particularmente o euro, que, desde finais de 2015, passou a ser a moeda dos leilões do BNA, pelas dificuldades e restrições no fornecimento da moeda norte-americana pelos bancos correspondentes.
Um profissional da tesouraria do BFA revela que, mesmo para os colaboradores do banco, tem sido difícil comprar euro, “não porque o banco não vende, mas pela escassez das notas vendidas pelo BNA”. “Eu próprio não consegui adquirir euros, mesmo sendo do banco. Mas a culpa não é do meu banco. Isso tem muito que ver com as disponibilidades e com o programa de vendas dirigidas orientada pelo Governo”, desabafa o colaborador, de uma das agências do distrito da Maianga. Há duas semanas, o BFA só tinha 76 mil dólares na caixa, montante reservado para uma unidade hospitalar, ao abrigo do programa de venda ou alocação segmentada das divisas, revelou outro gestor sénior, de outra agência, na estrada directa de Cacuaco.
REGRAS ALTERADAS
A estratégia de distribuição de divisas está constantemente a ser alterada. Os bancos BFA, BPC e BIC justificam com a redução do nível de ‘stock’ de recursos em moeda estrangeira, assim com indicadores do mercado.
Actualmente, no BFA, para se ter acesso a divisa, são exigidos uma conta salário domiciliada e um saldo mínimo de conta na ordem dos 500 mil kwanzas, além de requisitos com passaporte visado (para destinos que obriga) e o bilhete de passagem.
“Mas só a escassos dias da viagem é que o cliente é contactado para ter acesso ao montante solicitado”, explicou uma assistente comercial de uma das agências do BFA, entidade controlada pela Unitel, desde princípio do ano, e o maior da banca nacional em lucros.
À semelhança do BFA, está o BIC e o BPC, que exigem igualmente conta salário domiciliada e todos os requisitos exigidos pelo instrutivo do banco central sobre montantes mínimos para concessão a particulares que pretendam entrar ou sair do país. Se o ritmo de venda se mantiver, 2017 poderá colocar mais ‘notas’ que 2016, que só libertou 9,2 mil milhões de euros.
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