‘Bendito’ Convid-19

02 Apr. 2020 César Silveira Opinião

Foi preciso a chegada deste maldito coronavírus para o Governo avançar com reformas que há anos se defendiam e que a maioria dos angolanos acreditou que iniciariam em 2017 com o mandato de João Lourenço.

A redução da estrutura do Governo estava entre as expectativas, mas acabou por ser uma decepção. Tudo se manteve como antes: 31 ministros (entre os quais os ministros de Estado).

Os apelos para a redução do Governo continuaram perante a permanência e agravamento da situação económica e financeira do país. Mas nada indiciava predisposição de João Lourenço em emagrecer a sua equipa. Nem mesmo os “cofres vazios”. Foi necessário a chegada do maldito Coronavírus e as suas consequências.

Neste aspecto, o vírus terá sido bendito. Chega a ser arrepiante imaginar que foi necessário a situação extremar para o Governo tomar como emergentes medidas que poderiam ser tomadas sem este selo. Ou, pelo menos, poderiam ser tomadas sem necessariamente estarem ligadas a um ‘assassino silencioso’.

Há medidas que, sim, são normais no contexto como a revisão do OGE, por exemplo. Mas todas aquelas que visam essencialmente racionalizar custos não precisavam de esperar por este momento, pois foram inúmeros os apelos. Por diversas vezes, diferentes vozes acusaram o Governo de pedir sacrifício ao povo, exigir o aperto do cinto, quando continuava a esbanjar como se tivesse tudo bem com viagens e outras benesses desnecessárias. Muitas delas são agora consideradas ‘gorduras’ graças ao maldito vírus. E talvez hoje não fosse necessário agradecer a um assassino silencioso.

Uma vez que o desejo colectivo é que a pandemia seja coisa do passado o mais rápido possível, resta apelar que, quando isso acontecer, quando o vírus desaparecer, não leve o lado positivo que nos legou. Porém, o histórico obriga a acreditar que isso pode acontecer com alguma facilidade. Basta lembrar que se devolveu à gaveta o projecto de diversificação económica, sempre que a crise que levasse a pensar nele fosse embora.

 

César Silveira

César Silveira

Editor Executivo do Valor Económico