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BPC e o serviço que nunca deveria ter sido abandonado

28 Jan. 2019 César Silveira Opinião

O Banco de Poupança e Crédito reabriu, na semana passada, o crédito de salário antecipado. Um serviço que nunca deveria ter sido interrompido pelo potencial de negócio que representa. Mas foi forçado a interromper por ter priorizado o crédito ao investimento, quando os ‘assalariados’ representavam e representam parte considerável dos seus clientes por culpa da domiciliação dos salários.

Durante anos, o BPC tinha o monopólio da guarda dos salários públicos, perdeu em 2011 por incapacidade de os administrar. Eram constantes as falhas, que levaram muitos clientes a procurarem por outros opções tão logo passaram a ser possíveis. Talvez o banco ganhasse mais se, mesmo depois da abertura do mercado, conseguisse manter os clientes, oferecendo serviços de qualidade. Acrescentando ao crédito salário antecipado, os créditos para micro e pequenos negócios, mas sempre priorizando quem tivesse salários domiciliados.

Se assim fosse, o banco dificilmente atingiria o actual nível de malparado, mais de 77% do crédito. Certamente seria bem menor, considerando duas máximas bem conhecidas no meio bancário e financeiro: o “pobre é bom pagador” e a outra que diz, mais palavras menos acentos, “arranja problemas com o banco quem beneficia de um microcrédito e o banco arranja problemas com quem beneficia de um ‘macrocrédito’”, em alusão à maior dificuldade das instituições negociarem e cobrarem os malparados a devedores de grandes valores.

Caso o banco se venha a salvar, mais uma vez, esta deveria ser a direcção, sem, no entanto, descurar os créditos ao investimento, mas só e apenas quando se tratasse de uma grande oportunidade. Só e apenas quando a avaliação concluísse que se tratasse de um negócio infalível, sem grandes riscos. Deixaria estes com os bancos privados.

Se assim for, certamente, o BPC teria muitos dos ‘assalariados’ a regressar pela incapacidade ou pela falta de interesse dos bancos privados disponibilizarem este produto. Não são poucos os trabalhadores que se interrogam sobre as vantagens de terem os salários nesse ou naquele banco que não consegue ‘oferecer’ o adiantamento de um salário. Uma realidade que permite a que os credores informais vão dominando o mercado do microcrédito, que serve também para mostrar que são precisas instituições de microfinanças.

César Silveira

César Silveira

Editor Executivo do Valor Económico