Candongueiros rentáveis, mas com ‘dores de cabeça’

Táxis. O transporte urbano de passageiros movimenta somas avultadas que não pagam impostos. O proprietário da viatura ganha 15 mil kwanzas por dia e, no fim do mês, o motorista pode ter um rendimento de até 100 mil kwanzas.

A actividade de transporte de passageiros por hyace (ou candomgueiro) e por turismo gera somas avultadas, mas difíceis de contabilizar e que engrossam a componente informal da economia. Não existem registos fiéis do número de viaturas. Nem a Associação dos Taxistas de Luanda (ATL) sabe dizer quantos táxis circulam.

Quem está no negócio confirma que é lucrativo, além de ser “um bom emprego para quem sabe gerir o que ganha”, como explica Vitorino Benjamim, de 33 anos, e taxista há sete. Carlos Cabral, proprietário de uma viatura, insiste que o negócio é rentável, que muitas pessoas vivem dele e que o sector pode ser um bom investimento.

Uma viatura Hiace em Angola custa cerca de 40 mil dólares (6,4 milhões de kwanzas. Já no estrangeiro, pode custar 23 mil dólares (3,7 milhões de kwanzas), a que são adicionados os custos de transporte e aduaneiros. Há patrões com frota de 40 toyotas Hiace (vulgo candongueiros) e o investimento é recuperável em menos de dois anos. Com a manutenção regular, a viatura trabalha um mínimo de cinco anos sem dificuldades graves.

O dono de uma viatura Hiace pode exigir ao motorista 15 mil kwanzas por dia, embora a jornada renda entre 25 e 30 mil kwanzas.

A direfença é repartida entre o combustível (cerca de seis mil kwanzas) e a lavagem do carro e o parqueamento (cerca de 1500 kwanzas), sobrando sempre uns ‘trocos’ para o motorista e o cobrador, que, entretanto, têm um dia reservado para si, normalmente o sábado.

No caso dos turismos, o valor do patrão oscila entre os cinco e os seis mil kwanzas, sendo que o dia pode gerar mínimos de 8 mil e máximos de 10 mil kwanzas.

Há patrões, no entanto, que optam pelo modelo de contrato em que o motorista trabalha num determinado período (normalmente um ano), findo o qual passa a proprietário da viatura. Neste formato, o motorista perde a recompensa de um dia na semana.

Mas o negócio, apesar de lucrativo, está longe de ser um mar de rosas. João Baptista, outro proprietário de um Hiace, lamenta a falta de honestidade por parte de alguns motoristas e cobradores que não apresentam o valor acordado. “Quando o motorista é honesto, o negócio de táxi é rentável, mas há uns que desviam dinheiro e que muitas vezes não conseguem apresentar os 15 mil diários. Eu próprio várias vezes já conduzi e consegui 30 mil, num dia.”

Regra geral, a jornada dos taxistas começa às 5 horas e termina às 19 horas, mas há quem trabalhe até mais tarde. O tempo chuvoso é aquele em que se regista mais avarias. Quando são graves, ficam por conta do patrão.

O tempo de frio (cacimbo) é considerado como a época em que se regista poucos passageiros, porque, segundo relatos dos taxistas, há quem prefira fazer caminhadas nessa altura. Actualmente, a diminuição das receitas é justificada também pela proibição dos ‘hiaces’ de fazerem viagens interprovinciais.

14 MIL LICENCIADOS

O Governo de Luanda licenciou mais de 14 mil viaturas (azul e branco) até finais do ano passado, que fazem o serviço de táxis. A última actualização da tarifa de 100 para 150 kwanzas foi feita no começo de Janeiro, depois de sucessivos encontros de concertação entre associações e o Ministério das Finanças.

Não há dados recentes sobre o número de luandenses que anda de táxi. O último estudo foi feito pelo Grupo Marktest em 2011, que revelou que 89% da população utilizava o serviço de táxis.