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José Zangui

José Zangui

TURISMO. Taag assegura estar a trabalhar para que nenhum passageiro fique em terra em qualquer das rotas. Tudo foi programado no princípio do ano, de acordo com o porta-voz, Carlos Vicente.

 

MECÂNICA. Oficinas de rua estão a ser combatidas pela ‘Operação Resgate’. Quem está no negócio quer formalizar a actividade mas há entraves, como a falta de espaço, financiamento e a burocracia.

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Quem anda por Luanda e um pouco por todo o país, facilmente depara-se com oficinas auto de rua que praticam preços mais baixos em relação às oficinas formais e, por isso, clientes não faltam. Portanto, é uma actividade rentável, segundo os ‘mestres’ que falaram ao VALOR.

Com características muito próprias, em que se destaca o acumulado de viaturas avariadas, estas oficinas de rua têm-se revelado autênticas escolas de formação. Muitos dos mestres de hoje começaram em espaços semelhantes como ajudantes. Depois de passarem a dominar a técnica, montaram as próprias oficinas, às vezes, partilhando a mesma rua com oficina onde se formaram. E ao que se verfica, a actividade emprega milhares de jovens, no entanto faz parte das que estão a ser combatidas pela ‘operação resgate’. Mas os operadores resistem à ameaça policial, porque entendem que devem defender o ‘ganha-pão’, como refere o mestre João da Piedade. Esse operador partilha a preocupação de vários dos seus colegas que pretendem regularizar a actividade, mas queixam-se de vários entraves. As dificuldades de acesso a financiamentos e de aquisição de espaços destacam-se, além da quase impossibilidade de conseguirem os alvarás comerciais.

Diamantino José Carneiro foi futebolista mas, há 20 anos, trocou a bola pela mecânica. Diz ser um jovem esquecido pela sociedade, porque há muito que luta para montar uma oficina de ‘primeira’ com bate-chapa e escola de formação e deixar a rua, mas não consegue.

Estima que, pelas suas mãos, terão passado mais de 50 jovens que hoje exercem também a mecânica de forma independente. Por isso entende que “pedir espaço e financiamento não é pedir muito”, mas antes estaria a criar emprego para outras pessoas. “O trabalho é top, até membros do governo me procuram, mas não facilitam”, acusa.

João Gaspar da Piedade também repara carros na rua há 20 anos, emprega três ajudantes e, às vezes, quando solicitados, deslocam-se ao encontro do cliente. “Trabalho na rua porque o espaço que adquiri para montar uma oficina de primeira fica distante. Eu vivo aqui no Rangel e o espaço consegui em Viana”, justificou, acrescentando que os clientes preferem oficinas localizadas próximo àcj estrada.

“Quero deixar a rua, até porque há casos em que os fiscais rebocam os carros dos clientes e nos criam problemas. Temos de pagar 20 mil kwanzas ou mais para reaver a viatura. Com o ‘resgate’ situação piorou.”

PREÇOS BAIXARAM

Os mestres, como são conhecidos, concordam que a actividade é rentável. Valdimar Kibacula detalha que cobram 40 mil kwanzas pela montagem de um motor de seis cilindros, enquanto, pelo motor de quatro cilindros, cobram entre 20 e 35 mil kwanzas. Antes da crise, cobravam para este serviço 150 mil kwanzas. Serviços menos complexos como o reaperto e troca de óleo custam 16 mil kwanzas.

João Gaspar da Piedade embolsa, em média, dois milhões de kwanzas por mês, que partilha com os ajudantes. Diamantino José Carneiro, por sua vez, fala em uma facturação média mensal de 400 mil kwanzas. E explica que a procura baixou, com o aumento de oficinas modernas.

Geralmente, os mecânicos recorriam aos mercados dos Correios e dos Kwanzas para a compra de peças, mas o primeiro foi encerrado no âmbito da ‘Operação Resgate’, o que complicou a actividade. “ Pioraram o nosso sofrimento”, lamentou Diamantino José Carneiro.

Muitos dos mestres não passaram em centro de formação profissional, aprenderam com a experiência diária, mas agora procuram actualizar-se para “seguirem a pedalada das novas tecnologias”.

EXPORTAÇÃO DE CIMENTO. Governo vai ceder à ‘pressão’ dos industriais de cimento, que defendem a exportação da produção que não encontra escoamento no mercado interno. Plano avança 2020 como o ‘timing’ provável para o início.

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O Governo e a Associação dos Industriais de Cimento estão a trabalhar num plano sobre a viabilidade das exportações do produto, como forma de atender à preocupação dos produtores, face à fraca procura no mercado interno.

A informação foi avançada, na semana passada, pelo secretário de Estado da Economia, Sérgio Santos, e confirmada por Manuel Pacavira, presidente dos industriais do cimento.

“Se o problema identificado é a quebra do consumo interno, a subida do preço não se aconselha”, defendeu Sérgio Santos, reconhecendo “os esforços” que as unidades fabris fazem e que até justificam a subida. Mas, para já, o Governo defende a manutenção do preço, com a primeira solução para o escoamento a passar pela exportação.

O governante indicou haver questões “que devem ser estudadas”, uma das quais é sobre o preço a praticar no mercado externo, para que Angola tire vantagens. A outra é a desburocratização dos processos alfandegários. Nos cálculos do Executivo, olhando para estes aspectos, a exportação pode começar entre 2020 e 2021.

Sérgio Santos lembrou que as indústrias foram montadas num contexto em que o país estava em reconstrução e que precisava muito das empresas. Hoje, acrescentou, o cenário mudou, com a crise, muitas empresas tiveram de ser desmobilizadas.

Segundo Manuel Pacavira Júnior, do total de 6,6 milhões de toneladas de cimento de capacidade instalada, apenas 2,2 milhões foram produzidas, este ano, devido à baixa de consumo.

Enquanto os industriais se queixam da baixa do consumo, Cabinda, Cunene e Kuando-Kubango ainda importam cimento, gerando receitas para outros países. Sérgio Santos defende que isso está a acontecer devido a problemas de transportação, já que, se as unidades fabris garantirem a transportação do produto para estas províncias, o Governo pode alterar a medida.

BALANÇO. Equipa económica justifica que redução do preço do petróleo quebrou as receitas fiscais, provocando sucessivos défices e altas taxas de inflação.

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O Governo prevê chegar “ao fim do mandato com uma taxa de inflação de um dígito”, segundo o ministro de Estado para o Desenvolvimento Económico e Social, Manuel Nunes Júnior, que estima para este ano uma taxa abaixo dos 19%, a mais baixa dos últimos três anos. Para 2019, prevê-se a taxa mais baixa a rondar os 15%.

Na comunicação do Governo, da passada quinta-feira, 29, onde apenas foram ‘permitidas’ três questões dos órgãos públicos de comunicação social, Manuel Júnior confirmou que, entre 2013 e 2017, “como consequência da redução do preço do petróleo, as receitas do Estado registaram queda acentuada, situação que resultou em sucessivos défices fiscais”.

“A Conta Única do Tesouro (CUT) em moeda externa era de 15.86 mil milhões de dólares em 2013, em Setembro de 2017, essa conta atingiu valores mínimos, situando-se em cerca de 6.98 mil milhões de dólares”, afirmou o ministro.

Em relação às Reservas Internacionais Líquidas (RIL) “de Dezembro de 2016 a Dezembro de 2017, baixaram em cerca de 7.3 mil milhões de dólares, ao passar no período de um ano de 20.8 mil milhões de dólares para 13.5 mil milhões. Isto é, no período anterior ao Programa de Estabilização Macroeconómica (PEM) as RIL situaram-se em 13.5 mil milhões de dólares. Hoje estas reservas situam-se em 11.6 mil milhões de dólares”.

Manuel Júnior esclareceu ainda que, embora as RIL sejam um instrumento importante para a credibilidade do país, as mesmas não devem ser tidas como sendo reservas do Tesouro, já que estas não podem ser utilizadas para fazer face aos gastos correntes, tal como pagamento de salários da função pública e outros gastos similares. “Do ponto de vista da economia real, de 2016 a 2017, o país teve um crescimento negativo”, que continuará a mesma marcha negativa ao situar-se entre 0,1% a -1%.

A comissão económica não avançou números quanto aos investimentos e postos de emprego criados no terceiro trimestre, tendo o ministro da Economia e Planeamento, Pedro Luís da Fonseca, referido apenas que “houve alteração da Lei do Investimento, tornando-a mais atraente, mas obviamente não é em um ano que vamos ter resultados dos investimentos em curso e do seu impacto”.

Mas, em relação ao emprego, indicou estar em curso um inquérito ainda não concluído.

O PEM foi elaborado a pensar na melhoria do equilíbrio das contas internas e externas; diminuir o diferencial entre as taxas de câmbio do mercado oficial e paralelo; criar um ambiente propício ao investimento de modo a relançar a economia do país e melhorar os indicadores sociais.

Manuel Nunes Júnior referiu que “o que estamos a fazer com o PEM é restaurar a confiança dos agentes económicos, para com eles retomem o crescimento. Sem eles não podemos cumprir o nosso objectivo fundamental que é aumentar a produção nacional, tornar as nossas empresas mais fortes e competitivas, promover as exportações fora do sector petrolíferos e substituir as exportações”.

O grande desafio é que Angola produza bens essenciais de que necessita para o nosso consumo interno, com isso reduzir a pressão sobre as divisas que ser alocadas para aquisição de matérias-primas e equipamentos.