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Coisa do passado? Acumulação de capitais...

22 Dec. 2021 César Silveira Opinião
Coisa do passado? Acumulação de capitais...

Quando, a 18 de Março, o Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (Igape) tornou públicos os moldes para o processo de privatização integral do BCI, o Valor Económico solicitou a opinião de diversos especialistas sobre o modelo escolhido por entender que cheirava a refogado de um prato devidamente pensado para alimentar alguém muito especial.

O modelo escolhido foi o de leiloar a totalidade das acções em bloco indivisível. Ou seja, estava destinado a ser entregue a um único vencedor. O que era difícil de perspectivar é que o comprador viria a ser um ‘outsider’. Ao anunciar o concurso, o Igape dava conta que estava destinado exclusivamente a candidatos especialmente qualificados.

Assim, muitos pensaram que o “especialmente qualificados” limitava os concorrentes ao sector bancário e/ou, no limite, ao financeiro. Afinal, enganou-se quem deixou de concorrer por sentir-se excluído devido à 'cláusula' “especialmente qualificados”. Pelo que tudo indica, quem não se intimidou foi o Grupo Carrinho.

Coincidentemente ou não, este é o único beneficiário, além da empresa pública TAAG, de garantias soberanas aprovadas pelo Presidente João Lourenço. No caso, foram 114 milhões de dólares aprovados em duas ocasiões, em Março (56,9 milhões) e em Agosto (57,4 milhões de dólares). Existem, por isso, razões para suspeitar dos bastidores do negócio que levou o Grupo Carrinho a tornar-se proprietário do BCI.

Estas suspeitas tornam-se maiores ao avaliar-se o preço de venda, cerca de 28 milhões de dólares. Muito desvalorizado se se considerarem, por exemplo, os fundos próprios do banco, que estão avaliados em cerca de 46 milhões de dólares.

Combinando o modelo escolhido para a privatização do banco e o valor a que veio a ser vendido, aumentam as suspeitas de que tudo começou a ser preparado em Março. Foi o mês do lançamento do concurso público e, coincidentemente, da aprovação da primeira garantia soberana passada pelo Presidente João Lourenço ao Grupo. Portanto, o tempo provará se o Grupo Carrinho recebe ou se oferece um presente de Natal.

César Silveira

César Silveira

Editor Executivo do Valor Económico