ATÉ AO INÍCIO DO QUARTO TRIMESTRE DE 2016

Comércio ‘engoliu’ maior fatia do crédito cedido à economia

ESTATÍSTICAS MONETÁRIAS. Dados do banco central colocam comércio a grosso e a retalho na linha da frente do crédito cedido pelos bancos, ao absorverem 870,1 milhões de kwanzas da totalidade do volume de dinheiro disponibilizado até Outubro. Particulares e imobiliários são segundo e terceiro mais abastecidos.

O sector do comércio a grosso e a retalho recebeu dos bancos 870,1 milhões de kwanzas de crédito, correspondentes a 21,4% de um total de 4.066,9 milhões disponibilizado até Outubro, revelam os dados preliminares das estatísticas monetárias e financeiras do Banco Nacional de Angola (BNA).

De acordo com o banco central, que separa a distribuição do crédito em 18 sectores de actividades, o crédito a particulares e às actividades imobiliárias, ocupam a segunda e terceira posições na lista dos empréstimos, com cerca de 618,1 milhões e 587 milhões de kwanzas, respectivamente.

O BNA não junta aos dados nenhuma explicação sobre o aumento do volume de crédito, que saiu de 744 milhões de kwanzas, em Janeiro, para 870,1 milhões em Outubro, uma evolução de 17%, num espaço de 10 meses.

O fenómeno pode ser explicado pelas políticas de distribuição do crédito e de divisas a importadores, adoptadas pelo banco central em parceria com os ministérios do Comércio, Economia e Indústria, com vista a ‘salvar’ o mercado de especulações de preços e escassez de produtos da cesta básica.

Do total cedido, saíram ainda empréstimos para “outras actividades de serviços colectivos sociais e pessoais”, que ocupam a quarta posição da lista de crédito, com 572,4 milhões de kwanzas, seguida pelos sectores da construção e da indústria transformadora, que recolheram 489,1 milhões e 370,5 milhões, respectivamente.

O sector da agricultura, produção animal, caça e silvicultura vêm a seguir e somam créditos avaliados em 215,5 milhões de kwanzas, seguido da hotelaria e turismo que absorveu 76,1 milhões. A lista é ainda preenchida pelos transportes, armazenagem e comunicações, com 71,3 milhões.

Também constam das estatísticas monetárias dados referentes ao crédito para as actividades financeiras, seguros e fundos de pensões (68,4 milhões), a indústria extractiva (66,2 milhões), produção e distribuição de electricidade, gás e água (25,6 milhões), saúde e acção social (13,9 milhões), educação (11,8 milhões) e pesca (8,9 milhões).

A lista do crédito fica completa com saídas para os sectores de “famílias com empregados domésticos” (um milhão de kwanzas) e organismos internacionais e outras instituições extra-territoriais (395 mil kwanzas) e “outros valores não classificados”, de acordo com as estatísticas monetárias do banco central, com referência ao mês de Outubro.

BPC DEU MAIS CRÉDITO EM 2015

As estatísticas do BNA não identificam os bancos que participaram da concessão de crédito, nem os quantifica. Toda a informação sobre a disponibilização do crédito à economia está disponível nos dois últimos relatórios sobre o sistema financeiro nacional, desenvolvidos pelas consultoras Deloitte e KPMG, mas reportam-se ao ano pasado.

A Deloitte conclui, por exemplo, que o total de crédito líquido a clientes ascendeu a 2.736.435 milhões de kwanzas, representando um crescimento de 6% face a 2014, com o Banco de Poupança e Crédito (BPC) a liderar nas saídas, com cedências na ordem dos 927.390 milhões de kwanzas, seguido do BAI, com 353.686 milhões, e do BIC, com 290.755 milhões.

A mesma classificação é atribuída pelos peritos da multinacional KPMG, mantendo o banco estatal à frente no ranking de crédito de todo o sistema bancário, além de ocupar igualmente a primeira posição na classificação por activos totais.

EMPRÉSTIMO POR MOEDA ALTERA

Segundo ainda a Deloitte, a distribuição do crédito por moeda nacional e estrangeira alterou ligeiramente a sua tendência de composição, tendo-se verificado uma diminuição de cinco pontos percentuais (pp) no peso da moeda nacional entre 2014 e 2015, “devido à variação cambial que se registou”.

“Considerando uma taxa de câmbio igual à de 31 de Dezembro de 2014, o peso do crédito em moeda nacional aumentaria 1 pp. De notar que os créditos contratados após Junho de 2011 que sejam indexados ou denominados em moeda estrangeira podem ser reembolsados pelos clientes em kwanzas”, lê-se no estudo da consultora privada de responsabilidade limitada com origens no Reino Unido.