“Continuo a prever uma queda substancial (da produção petrolífera)”
Podemos considerar que 2024 foi positivo para o sector petrolífero, visto que, pela primeira vez, nos últimos anos, a produção petrolífera superou a previsão inscrita no OGE?
Definitivamente pode dizer-se que sim. Porém, se a previsão para 2024 era pessimista e tendo em consideração que a diferença não é significativa, este resultado é irrelevante. Os resultados poderiam ser melhores se quem controlasse a produção fosse uma companhia nacional, nunca as expatriadas.
O ano ficou marcado pela apresentação do Plano Director do Gás Natural (PDG). No entanto, António Vieira levantou suspeições sobre as motivações do Plano. Mantém-nas?
Como é óbvio, mantenho as suspeições relativas ao dito PDG. Embora tenha ficado a saber que o PDG apresentado não o foi na sua totalidade, a realidade é que, mesmo assim, não nos vai levar a lado algum. A Sonangol P&P é que tem de tomar a liderança e desenvolver a indústria. A ANPG não irá consegui-lo. Porquê? Porque a ANPG é só burocracia e muito blá-blá-blá.
Como perspectiva 2025 em termos de produção de petróleo e gás em Angola?
Continuo a prever uma queda substancial. Sabemos que os interesses das multinacionais não são iguais aos nossos e esse é o problema. Angola precisa de chamar a si as operações petrolíferas. A Sonangol precisa de dar o passo em frente e assumir a indústria como a Sonatrach, em 1974; a ARAMCO, em 1980; a Petronas no final dos anos 70 e mais recentemente a PERTAMINA. Enquanto isso não acontecer, estaremos sempre reféns das multinacionais e das suas agendas. Isso significará que a nossa produção será limitada a folha de crédito com que trabalham. Alguns campos entrarão em produção e ajudarão a aliviar as perdas, mas não espero por nenhum aumento significativo.
Há a possibilidade de, num futuro não muito distante, uma das petrolíferas privadas nacionais superar a Sonangol em termos de produção operada?
Não acredito que isto venha a acontecer por causa da falta de investimentos em exploração. Os angolanos que se abotoaram e que têm capacidade financeira para o fazer são alérgicos a investir na indústria porque não sabem gerir empreendimentos. São bons a sacar do erário, mas não compreendem o factor investimento. Não compreendem o risco e têm medo de perder o que ‘mamaram’ porque, se o perderem, não sabem como ganhar. Recordo-me do primeiro licenciamento onshore em 2012-13. Os angolanos que ficaram com os blocos tinham dois anos para pagar a módica quantia da assinatura e não o fizeram, razão pela qual essas concessões viriam a ser todas canceladas pela Eng.ª Isabel Santos. Negaram-se a investir o primeiro milhão, como iriam investir 40-50 milhões em exploração? Por outro lado, os bancos não estão interessados em lidar com eles. Guardam o dinheiro deles, mas tratam-nos como escumalha e nunca os financiarão. Finalmente, poderiam recorrer à bolsa de valores, só que isso é outra anedota. Portanto, não acredito que, num futuro próximo, alguma companhia (SOMOIL ou ACREPA) ultrapasse a Sonangol e não é por mérito próprio, mas pela dinâmica do negócio em Angola.
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