CONTABILISTA E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO, MAKIVAVILA JOÃO CLAÚDIO

“Desafio a ministra das Finanças a cortar todas as mordomias aos ministros e a pagar-lhes apenas os salários”

Em vésperas de completar 40 anos de academia, Makivavila João Claúdio critica o método de ensino da contabilidade na Faculdade de Economia, da Universidade Agostinho Neto, face aos desafios da economia de mercado. Defende estímulos de consumo para alavancar o crescimento da economia e a necessidade de criação de um Estado-social em Angola. O contabilista e professor universitário aponta ainda a falência propositada de empresas públicas como estratégia de gestores que se apropriam dos empreendimentos por via do programa governamental de privatização. E não deixa de censurar a Ordem dos Contabilistas pela ‘negociata das formações’ para se obter a carteira profissional.

“Desafio a ministra das Finanças a cortar todas as mordomias aos ministros e a pagar-lhes apenas os salários”

Os programas económicos do Governo enquadram-se no regime de economia de mercado?

Eu pergunto: Qual é a média de idade dos que falam de economia de mercado, em Angola? São jovens, muito jovens. Não há maturidade. Quem é muito atento, percebe que o que eles falam copiam do Brasil ou de Portugal. Não há novidades. Não têm a cultura de economia. Os programas do Governo não têm em conta as nossas realidades. O que é o Prodesi? É de Angola? Quem copiou? É preciso sentarmos e pensar, porque a juventude está muito acelerada. O difícil é saber ponderar. Têm que libertar a economia angolana [e daptá-la] à nossa realidade. Eu estou a orientar um trabalho onde se mostra quantos bancos faliram em Angola, até hoje. Faliram por quê? São os bilhetes. Estamos numa sociedade onde o pai manda um bilhete ao banco para conceder crédito ao seu filho. Aqui o negócio é aventura, não é empreendedorismo. O teu irmão trabalha no banco e facilita-te um crédito.            

Isso não mudou com o Presidente João Lourenço?

Eu não sou político. Sou muito académico. O que mudou é que estamos a sofrer mais. Nós não consumimos. Saco de cimento está a custar 3 mil kwanzas. Não temos concorrência, não temos competitividade. A competitividade é fazer melhor do que outro. Sem oportunidade de compra, não há mercado. Agora, pergunto ao empresário onde é que foi buscar dinheiro para abrir a loja? Crédito bancário. Como conseguiu? O meu primo. Há que mudar o paradigma, a forma. Sem consumo, não há crescimento. A economia hoje é circular, não é linear. Tudo se aproveita, não há lixo. Temos de ter uma política social sustentável. Estamos a criar muitos subúrbios, aí o cidadão é marginalizado. A integração social, em Angola, é de marginalização. Quanto mais subúrbios, mais marginais. O Estado deve estar voltado para o povo. Um Estado social não espera as consequências para agir. O que se passa em Angola é não acreditar em nós próprios.

 Para ler o artigo completo no Jornal em PDF, faça já a sua assinatura, clicando em ‘Assine já’ no canto superior direito deste site.