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Diversificar a Diversificação

04 Jul. 2016 Rui Malaquias Opinião

Diversificar a economia é um lema, é um objectivo e principalmente é a única alternativa para a nossa sobrevivência como país, se quisermos deixar uma herança suportável para as gerações vindouras. Como o verniz está para as unhas, a diversificação da nossa economia está para a produção nacional, pois o relançamento da produção nacional, para além de limitar as importações (deixando de pressionar a utilização das divisas), acaba com a dependência dos bens estrangeiros e das flutuações/choques dos outros mercados, o que corresponde a essência do processo de diversificação económica.

Produzindo bens internamente, estaremos automaticamente a potenciar as nossas exportações, e claramente a resolver o problema da dependência do petróleo, como único bem de exportação para entrada de divisas no país. Desta forma, estaremos a diversificar as fontes de entrada de divisas, mas também a diversificar os investimentos produtivos, sendo que teríamos várias indústrias fortes para balançar a carteira de investimentos da nossa economia. Esta logica é cristalina, pois, quando se investe em vários sectores, mesmo em bolsa, o aconselhável é não comprar títulos de um único sector, mas sim investir em títulos de diversos sectores, porque, caso o sector energético estiver com problemas e a cotação e os retornos destes investimentos descerem, certamente os investimentos no sector agrícola estarão em valorização, pois a utilização de fontes de energia ligadas aos campos agrícolas ganhará interesse.

No âmago da diversificação, a desaceleração de um sector será compensada pela subida do outro sector, dentro da mesma carteira de investimentos. Neste contexto, se diversificarmos, se pusermos os ovos em várias cestas, a queda do preço do brent deverá ser compensada, pela subida nas vendas de outra matéria-prima, evitando assim o desequilíbrio na balança de pagamentos. A diversificação, no estágio de relançamento da produção nacional, é essencial porque também cria empregos em Angola, aumenta o rendimento disponível das famílias e empresas, aumenta a base de arrecadação fiscal, melhorando as condições de financiamento da economia e a capacidade do Estado prover mais e melhores bens públicos.

Tal estágio não pode ser a única frente do processo, pois, mesmo nesta fase da nossa diversificação, precisamos, para além de produzir bens para cobrir a procura interna e limitar as importações, imediatamente de ter matérias primas para a exportação, com a mesma urgência que temos em relançar a produção nacional.

É nosso entendimento que a produção nacional só será relançada com esforço de aquisição de maquinaria e know how vindo do exterior, sendo para isso preciso as divisas que antes o petróleo brindava. Portanto, o processo de diversificação deverá ser, ele mesmo, diversificado. É preciso abrir caminho/dar tratamento especial às exportações, fazer estudos aprofundados sobre bens rapidamente exportáveis, criar para estes linhas de financiamento especiais para exportação, canalizar apoio do Estado angolano para tais iniciativas, bem como promover a cooperação internacional para que os bens cheguem aos mercados internacionais.

Por outro lado, é importante que o Estado apoie de forma directa a materialização de empreendimentos nacionais no estrangeiro, acautelando uma considerável participação estatal no capital social destes negócios, por forma a repatriar divisas para o país.

A diversificação que nos interessa deve ter dois fluxos inversos, de fora para dentro e ao mesmo tempo de dentro para fora, sendo que fluxo de entrada estará ligado à entrada de investimento estrangeiro/privado para criar emprego internamente, aumentar a produção nacional, satisfazer a procura interna, limitar as importações para níveis mínimos necessários e assim reduzir o esforço sobre as divisas e aumentar o produto interno bruto nacional.

O fluxo de dentro para fora deve ser uma realidade, no sentido de se fazer um esforço produtivo para exportação, ainda que sem elevados níveis de transformação dos produtos exportados, e por outro lado implantar negócios no estrangeiro para que possam ganhar mercado e repatriar recursos para Angola em forma de retorno do capital investido, contribuindo assim para a entrada de divisas, divisas estas que deverão alimentar o fluxo anterior.

Diversificar a diversificação é a solução para manter regular a capacidade da economia de lidar com o estrangeiro, suportar os choques dos mercados alvos das nossas importações, suster as variações no preço do petróleo e principalmente estarmos em condições de afirmar que o que estamos a consumir, e com satisfação, é produzido internamente.