ANGOLA GROWING
Rui  Malaquias

Rui Malaquias

E lá se vai mais um dos grandes, mais uma vítima do mais do que inflamado sector imobiliário norte americano, que desde 2008, vem aplicando valentes golpes a muito boa gente na alta finança internacional.

É importante fazer lembrar que a primeira vitima de peso da crise imobiliária americana de 2008, foi o banco americano de investimentos, Lehman Brothers que faliu com o total de 639 mil milhões de dólares em activos, mas como em seguida veremos, quando um banco declara falência, os contribuintes são chamados para pagar os devaneios dos superdotados CEO´s da banca mundial.

Claramente que o título não pode ser levado à letra, porque os bancos não podem desparecer da noite para o dia, pois representam o alicerce do sistema financeiro por receberem as poupanças daqueles que ainda podem poupar e emprestar à aqueles que pretendem criar emprego, riqueza e ao próprio Estado para fazer face à despesa pública de investimento.

Isto para dizer que, o Deutsche Bank vai seguir o caminho de muitos outros que venderam, indevidamente, títulos suportados pelas hipotecas de imóveis norte americanos e, por este motivo, o departamento de justiça do “Tio Sam”, vai aplicar uma multa já mais vista que irá fazer tremer o banco.

O que é um facto é que, o Deutsche Bank, em 2005, escolheu de forma irregular os créditos imobiliários cedidos nos Estados Unidos da América, para transformá-los em títulos, conhecidos como residential mortgage-backed securities (RMBS) (cuja rentabilidade provinha das rendas pagas pelos compradores das casas) colocados à venda na Bolsa de Nova York.

Detetadas tais inconformidades pelo órgão de supervisão do mercado de capitais norte americano Securities and Exchange Commission (SEC), o Departamento de Justiça daquele país vai aplicar uma multa de 14 mil milhões de dólares (mais de 11% do PIB angolano) o que não é, nem de perto nem de longe, páreo para os activos do banco que ultrapassam os 1.9 mil milhões de dólares.

O problema reside no facto das provisões do banco para situações como estas correspondem a menos de metade deste valor da multa, ou seja, 5,6 mil milhões de dólares.

Este facto, adicionado ao facto do banco em 2015, ter tido lucros de pouco mais de 7 mil milhões de dólares, faz com que os seus accionistas sejam obrigados a recapitalizar o banco, todavia afirmam não ter capacidade para o fazer, visto que os depósitos devem ser protegidos, os bons créditos que o banco concedeu devem ser salvaguardados e as boas aplicações devem continuar a render.

Convém lembrar que as acções do Deutsche Bank já estão a cair mais de 50% desde o inicio do ano, por razões conjunturais, o anuncio da aplicação da multa é responsável por um quinto daquela redução apenas em uma semana, sendo que esta queda resulta da incerteza sobre o futuro do banco e compreenda-se que a confiança e a previsibilidade são essenciais para os mercados.

Os mercados estão aflitos porque o Deutcshe Bank é apenas o 11º banco em termos de activos o que quer dizer que está fortemente implantado nos principais mercados internacionais, financiando regularmente Estados, grandes, medias e pequenas empresas e principalmente por ser o emissor de títulos que investidores de todo mundo detém nas suas carteiras de investimento.

Os efeitos já estão à vista, pois o banco já admitiu que vai fechar agencias em vários países europeus, levar a cabo uma politica de contenção de cedência de financiamentos, reduzindo assim os investimentos programados. Neste contexto os mercados são rápidos a reagir pois o potencial de rentabilidade do banco é reduzido e os potenciais investidores deverão mostrar um desinteresse quase automático face ao banco, pelo menos para o rumo que o assunto vai ganhar.

O Governo Alemão, como todo “bom governo” nestas situações já estará a preparar um plano de resgate do banco que passa por duas alternativas, sendo que a primeira corresponde ao facto do banco ter de vender partes da sua operação a entidades alemãs ou estrangeiras e o Governo Alemão deverá emitir garantias para potenciais perdas.

A segunda alternativa corresponde ao facto do Governo Alemão ter de nacionalizar 25% do banco para garantir a resiliência do banco, garantindo o normal funcionamento do banco, exigindo claras alterações na forma do banco actuar no mercado, principalmente na sua politica de concessão de créditos e operacionalização de produtos financeiros.

Qualquer uma das alternativas implica, ainda que potencialmente, a aplicação de dinheiro publico no banco, no fim do dia o que é preciso é sempre colocar o dinheiro que deixou de existir nos balanços dos bancos, apesar do CEO do Deutsche Bank ter posto de lado a possibilidade de ser resgatado pelo Estado, não parece haver outra solução, pois o mercado não estará disposto a ajudar o banco e sendo assim o Angela Merkel é chamada a intervir.

Claro está que mais uma vez os Estados aparecem para remediar ao envés de prevenir, sendo os problemas dos bancos são sempre ligados a operações com produtos financeiros e má gestão das suas carteiras de credito, e tais situações devem-se pela ausência ou mesmo falhas de supervisão dos mercados financeiros, e como os altos executivos dos bancos sabem que os Governos não deixam os bancos desperecer, então acautelam os interesses dos accionistas e depositantes.

Mestre em Finanças / Economista Docente Universitário / Analista de Projectos de Investimentos.

Diversificar a economia é um lema, é um objectivo e principalmente é a única alternativa para a nossa sobrevivência como país, se quisermos deixar uma herança suportável para as gerações vindouras. Como o verniz está para as unhas, a diversificação da nossa economia está para a produção nacional, pois o relançamento da produção nacional, para além de limitar as importações (deixando de pressionar a utilização das divisas), acaba com a dependência dos bens estrangeiros e das flutuações/choques dos outros mercados, o que corresponde a essência do processo de diversificação económica.

Produzindo bens internamente, estaremos automaticamente a potenciar as nossas exportações, e claramente a resolver o problema da dependência do petróleo, como único bem de exportação para entrada de divisas no país. Desta forma, estaremos a diversificar as fontes de entrada de divisas, mas também a diversificar os investimentos produtivos, sendo que teríamos várias indústrias fortes para balançar a carteira de investimentos da nossa economia. Esta logica é cristalina, pois, quando se investe em vários sectores, mesmo em bolsa, o aconselhável é não comprar títulos de um único sector, mas sim investir em títulos de diversos sectores, porque, caso o sector energético estiver com problemas e a cotação e os retornos destes investimentos descerem, certamente os investimentos no sector agrícola estarão em valorização, pois a utilização de fontes de energia ligadas aos campos agrícolas ganhará interesse.

No âmago da diversificação, a desaceleração de um sector será compensada pela subida do outro sector, dentro da mesma carteira de investimentos. Neste contexto, se diversificarmos, se pusermos os ovos em várias cestas, a queda do preço do brent deverá ser compensada, pela subida nas vendas de outra matéria-prima, evitando assim o desequilíbrio na balança de pagamentos. A diversificação, no estágio de relançamento da produção nacional, é essencial porque também cria empregos em Angola, aumenta o rendimento disponível das famílias e empresas, aumenta a base de arrecadação fiscal, melhorando as condições de financiamento da economia e a capacidade do Estado prover mais e melhores bens públicos.

Tal estágio não pode ser a única frente do processo, pois, mesmo nesta fase da nossa diversificação, precisamos, para além de produzir bens para cobrir a procura interna e limitar as importações, imediatamente de ter matérias primas para a exportação, com a mesma urgência que temos em relançar a produção nacional.

É nosso entendimento que a produção nacional só será relançada com esforço de aquisição de maquinaria e know how vindo do exterior, sendo para isso preciso as divisas que antes o petróleo brindava. Portanto, o processo de diversificação deverá ser, ele mesmo, diversificado. É preciso abrir caminho/dar tratamento especial às exportações, fazer estudos aprofundados sobre bens rapidamente exportáveis, criar para estes linhas de financiamento especiais para exportação, canalizar apoio do Estado angolano para tais iniciativas, bem como promover a cooperação internacional para que os bens cheguem aos mercados internacionais.

Por outro lado, é importante que o Estado apoie de forma directa a materialização de empreendimentos nacionais no estrangeiro, acautelando uma considerável participação estatal no capital social destes negócios, por forma a repatriar divisas para o país.

A diversificação que nos interessa deve ter dois fluxos inversos, de fora para dentro e ao mesmo tempo de dentro para fora, sendo que fluxo de entrada estará ligado à entrada de investimento estrangeiro/privado para criar emprego internamente, aumentar a produção nacional, satisfazer a procura interna, limitar as importações para níveis mínimos necessários e assim reduzir o esforço sobre as divisas e aumentar o produto interno bruto nacional.

O fluxo de dentro para fora deve ser uma realidade, no sentido de se fazer um esforço produtivo para exportação, ainda que sem elevados níveis de transformação dos produtos exportados, e por outro lado implantar negócios no estrangeiro para que possam ganhar mercado e repatriar recursos para Angola em forma de retorno do capital investido, contribuindo assim para a entrada de divisas, divisas estas que deverão alimentar o fluxo anterior.

Diversificar a diversificação é a solução para manter regular a capacidade da economia de lidar com o estrangeiro, suportar os choques dos mercados alvos das nossas importações, suster as variações no preço do petróleo e principalmente estarmos em condições de afirmar que o que estamos a consumir, e com satisfação, é produzido internamente.