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DA SÉRIE ‘A FUGA DOS INVESTIDORES’

20 Aug. 2025 Editorial

Stéphane Doppagne, o embaixador do Reino da Bélgica em Angola, apontou a realidade dramática sobre o investimento estrangeiro à vista de todos. Ou seja, de quase todos, já que aparentemente o Governo se recusa a enxergá-la. A mensagem, na entrevista ao Valor Económico na semana passada, é inequívoca. Os investidores belgas, apesar de reconhecerem potencialidades no país, não estão dispostos a arriscar o seu capital em Angola. Verbalizam, curto e grosso, que o nosso país não tem condições para atrai-los. Stéphane Doppagne preocupou-se em restringir-se aos investidores do seu país. É diplomaticamente compreensível que o tenha feito. A verdade, todavia, é que não há nada que tenha dito a respeito que não tivesse sido já alertado por outros representantes diplomáticos do Ocidente. Com rigor e frieza, o embaixador belga até foi condescendente. Ficou-se pelos riscos de natureza económica entre os de cariz estrutural e os de dimensão conjuntural. Instabilidade cambial, acesso restrito às divisas, dificuldades de repatriamento de capitais, diferença de cultura empresarial, etc... etc... 

 DA SÉRIE ‘A FUGA DOS INVESTIDORES’

Se quisesse ir além da cortesia diplomática, o embaixador não deixaria o risco político de fora. Até porque, como se diz, “contra factos não há argumentos”. Quanto mais a neblina cerra a conjuntura política, o risco político ganha mais relevância na avaliação dos factores de atracção do investimento. Passa a ser uma barreira séria e incontornável a ter-se em conta. Salvo em sectores específicos, os investidores não deslocam capital com entusiasmo para países com instabilidade social e política sempre latente ou descaradamente à mostra. Especialmente quando se está em contexto africano, demasiado minado pelo seu passado e presente volúveis, mas também por preconceitos aparentemente insanáveis. Em termos racionais e lógicos, é sobretudo isso o que torna impossível a compreensão dos biliões que João Lourenço e os seus auxiliares gastam em deslocações intermináveis que alegadamente visam atrair investidores. 

As contas, aliás, fazem-se com os dedos de uma mão. Um governo que se diz desesperado por investimento privado não pode ser o principal instigador de revoltas populares e do caos político. A repressão, as detenções e as perseguições instaladas, por genuína vontade do regime, são uma publicidade ruidosamente ruim para o país. E já está a ter os seus efeitos. Há quem tenha fugido do país (referimo-nos somente a investidores); há quem tenha alterado planos de visitas de prospecção e há quem esteja a consolidar receios anteriores de que Angola não é um bom lugar para se estar e para se investir. 

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