DA SÉRIE ‘A FUGA DOS INVESTIDORES’
Stéphane Doppagne, o embaixador do Reino da Bélgica em Angola, apontou a realidade dramática sobre o investimento estrangeiro à vista de todos. Ou seja, de quase todos, já que aparentemente o Governo se recusa a enxergá-la. A mensagem, na entrevista ao Valor Económico na semana passada, é inequívoca. Os investidores belgas, apesar de reconhecerem potencialidades no país, não estão dispostos a arriscar o seu capital em Angola. Verbalizam, curto e grosso, que o nosso país não tem condições para atrai-los. Stéphane Doppagne preocupou-se em restringir-se aos investidores do seu país. É diplomaticamente compreensível que o tenha feito. A verdade, todavia, é que não há nada que tenha dito a respeito que não tivesse sido já alertado por outros representantes diplomáticos do Ocidente. Com rigor e frieza, o embaixador belga até foi condescendente. Ficou-se pelos riscos de natureza económica entre os de cariz estrutural e os de dimensão conjuntural. Instabilidade cambial, acesso restrito às divisas, dificuldades de repatriamento de capitais, diferença de cultura empresarial, etc... etc...

Se quisesse ir além da cortesia diplomática, o embaixador não deixaria o risco político de fora. Até porque, como se diz, “contra factos não há argumentos”. Quanto mais a neblina cerra a conjuntura política, o risco político ganha mais relevância na avaliação dos factores de atracção do investimento. Passa a ser uma barreira séria e incontornável a ter-se em conta. Salvo em sectores específicos, os investidores não deslocam capital com entusiasmo para países com instabilidade social e política sempre latente ou descaradamente à mostra. Especialmente quando se está em contexto africano, demasiado minado pelo seu passado e presente volúveis, mas também por preconceitos aparentemente insanáveis. Em termos racionais e lógicos, é sobretudo isso o que torna impossível a compreensão dos biliões que João Lourenço e os seus auxiliares gastam em deslocações intermináveis que alegadamente visam atrair investidores.
As contas, aliás, fazem-se com os dedos de uma mão. Um governo que se diz desesperado por investimento privado não pode ser o principal instigador de revoltas populares e do caos político. A repressão, as detenções e as perseguições instaladas, por genuína vontade do regime, são uma publicidade ruidosamente ruim para o país. E já está a ter os seus efeitos. Há quem tenha fugido do país (referimo-nos somente a investidores); há quem tenha alterado planos de visitas de prospecção e há quem esteja a consolidar receios anteriores de que Angola não é um bom lugar para se estar e para se investir.
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