NÃO FOI DESTA… ANGOLA CRESCE SOB PRESSÃO
A sociedade civil foi a escolha da equipa do Valor Económico como Personalidade do Ano. Uma eleição que não é negativa por reconhecer o exercício legítimo dos direitos à manifestação, à greve e à reivindicação. É negativa porque traduz, acima de tudo, uma oportunidade perdida.
Diz menos sobre um triunfo da acção cívica e mais sobre a incapacidade do país em produzir, por via própria, uma agenda económica vencedora. Em 2025, Angola voltou a crescer — dados estimativos — não por estratégia, inovação ou ganhos de produtividade, mas pelo ‘favor’ do preço do petróleo e sob pressão. Pressão social, pressão laboral, pressão política. Um crescimento reactivo, defensivo, circunstancial. Não um crescimento planeado, sustentado e transformador.
Não foi desta vez que a diversificação da economia se impôs como facto e não apenas como intenção. Nenhum sector produtivo conseguiu destacar-se de forma consistente pelo seu desempenho, pela criação de valor ou pela sua capacidade de arrastamento da economia. O agronegócio voltou a ficar aquém de um impacto estrutural, incapaz de afirmar-se como motor real do crescimento.
O sector das pescas seguiu o mesmo roteiro conhecido. As referências dominantes continuaram a ser a veda de determinadas espécies — com destaque para o carapau — e a queda das capturas. A estabilidade produtiva, a industrialização e a expansão da cadeia de valor permaneceram mais no plano do discurso do que dos resultados mensuráveis.
Também a dívida pública não justificou qualquer destaque positivo. Quem dera. Mas o guião repetiu-se. Em vez de uma trajectória deliberada de consolidação e redução, assistiu-se ao contrário. O stock da dívida pública passou de 60,77 mil milhões de dólares, no primeiro trimestre, para 63,63 mil milhões no terceiro. Portanto, o ano termina como começou — ou ligeiramente pior.
Enquanto jornal de especialidade económica, ao Valor Económico daria igualmente maior satisfação poder assinalar avanços institucionais com impacto directo na eficiência do Estado e na confiança dos agentes económicos. O reforço do concurso público enquanto regra nos procedimentos de contratação seria um desses sinais. Mas também aqui não foi desta. A contratação simplificada continuou a dominar, adiando, mais uma vez, a consolidação de práticas mais transparentes, concorrenciais e previsíveis.
Perante este conjunto de desilusões económicas e institucionais, a sociedade civil acabou por ocupar o espaço deixado vazio. Não por mérito exclusivo, mas por ausência de alternativas económicas credíveis. Quando a economia não lidera, a rua impõe-se. Quando a política económica falha em entregar resultados, a pressão social transforma-se no principal motor de mudança.
Eleger a sociedade civil como Personalidade do Ano é, por isso, menos uma celebração e mais um alerta. Um retrato fiel de um país que reage mais do que age, que recua mais do que planeia e que cresce, sobretudo, sob pressão. Se este padrão permanecer, dificilmente 2026 contará uma história diferente. E, nesse cenário, não será surpresa se a sociedade civil voltar a destacar-se — não por escolha editorial, mas pela persistente ausência de resultados económicos que falem mais alto do que a contestação. Até lá!









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