E agora pergunto eu...
Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende, depois de uma semana em que a actualidade entre nós esteve tão densa que nem animava olhar para a actualidade do resto do mundo. Depois da semana anterior termos assistido ao caos em Luanda e outras capitais de província pelo país fora, de termos assistido ao assassinato de cidadãos desarmados pelas forças da ordem, de termos visto o presidente ler um comunicado que, para evitar os seus desaires do costume terá sido mais provavelmente escrito por outrem presumivelmente até à parte em que ‘os autores saíram derrotados’ - essa passagem já soa mais característica do chefe.

Como dizia na semana passada, pessoalmente não via qualquer motivo para aguardar pelo pronunciamento daquele que é o chefe de Estado e do estado de coisas porque já nos habituou a quase oito anos de discursos acções e politicas, no mínimo, equivocadas. Derrotados saídos da morte de dezenas de angolanos as mãos de forças que existem para os proteger? Não é essa uma derrota para todos? Para a Nação? Só mesmo João Lourenço e o seu habitual apartamento do bom senso narrativo para afirmar qualquer coisa diferente...
Várias dessas pessoas que foram mortas não estavam sequer a participar em protestos. E mesmo que estivessem, não se pode dar carta verde à polícia para praticar execuções sumárias. O resultado dessa autorização foram transeuntes mortos, pessoas apanhadas e não tinham sido avisadas de que a polícia estaria aos tiros na rua a matar indiscriminadamente. No entanto, o presidente entende que derrotou alguém...
Na esteira desses acontecimentos, o país respirou na corda bamba a assistir a detenções a julgamentos sumários, a funerais, e à manipulação da justiça para mais uma vez cimentar a narrativa que condena qualquer acto de manifestação de descontentamento com o estado andrajoso do Estado governado pelo presidente. E respirou sempre com a nítida sensação de teatro ensaiado e preparado com recurso a leis securitárias cada vez mais restritivas do espaço cívico, da liberdade de opinião leis como a da Segurança Nacional, leis como a do Vandalismo que parece ter sido talhada à medida para quando os angolanos se fartassem de tanta má governação e leis de silenciamento afins. Respirou com medo do que se avizinha porque os motivos para mais protestos não param de aumentar assim como vai aumentado a necessidade do regime de criar diversões de atenção pública. Como será possivelmente a nova novela do terrorismo russo.
O Movimento Cívico organizou uma nova petição a pedir a destituição do presidente com base nas mortes que a sua governação já carrega às costas e a Amnistia Internacional também fez um comunicado condenando a acção da polícia e exigindo investigações credíveis. Se a polícia é de facto republicana então é de supor que essas investigações sejam de facto reais e credíveis.
A marcar a actualidade esteve ainda a notícia do Valor Económico que dava da publicação relatório de contas pela Bodiva, que por sua vez dava conta de que os 13 membros dos órgãos sociais da Bodiva que é presidida pela filha do presidente da república receberam mais de 545 milhões de kwanzas em três meses elevando os custos com pessoal a valores superiores ao arrecadado no período. Pouco depois surgiram outros meios e títulos online dando conta de outros valores de salário estratosféricos citando outras fontes que a Bodiva veio negar até porque os balanços não apontam valores de salário individuais que por aí circularam. O problema de fundo é que qualquer valor salarial, numa altura em que o país vive com a corda no pescoço, pior num órgão que não arrecada nem mais do que tem de despesa, iria sempre levar a críticas e até a especulação porque o problema é a crise em que está mergulhada a economia do país, a falta de emprego a falta de tudo. E tal como na altura em que Isabel dos Santos foi para a Sonangol e independentemente do valor que poderia trazer para a companhia, neste espaço a opinião foi sempre a de que ‘à mulher de César não basta ser séria, tem de parecer séria’ também, daí que estas posições se abrem frequentemente a este tipo de polémica.
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