Dois anos, duas perspectivas
O exercício de 2018 que se aproxima do fim e o de 2019 que se revela no horizonte imediato podem representar duas perspectivas diferentes nas prioridades de governação. Depois de vários meses intensos de viagens, assumindo a liderança da diplomacia económica, João Lourenço vai encerrar o ano, agregando, nos resultados, o lado prático do combate à corrupção e às práticas lesivas ao interesse público. Ainda que discutíveis pela eventual falta de justeza de alguns casos, para os propósitos políticos de João Lourenço, as detenções de altas figuras do Estado representaram uma espécie de ‘evolução’ do discurso na defesa contra alguma crítica.
Veja-se que, até à ordem de prisão a essas figuras relevantes, João Lourenço ouviu sistematicamente que a promessa eleitoral de combate à corrupção não transitava da teoria à prática. Ao determinar as prisões, ainda que em alguns casos de forma controversa, não só reduziu certo tipo de críticas internamente, como se preparou para responder a inquietações externas que avaliavam a sua principal promessa eleitoral com algum cepticismo. Não foi por acaso que, nas últimas duas deslocações ao exterior – Estados Unidos e China –, o principal elogio que recebeu dos seus pares está relacionado com as reformas que empreende, com enfoque na chamada cruzada contra a corrupção.
Em 2019, as prioridades devem, entretanto, ajustar-se. Sem necessariamente baixar a guarda no combate à corrupção, João Lourenço sabe que, nos próximos tempos, tem de apresentar ideias para a resolução gradual de problemas práticos que afectam as famílias e a economia. A criação de emprego, o combate à pobreza, a promoção da produção nacional e o apoio às empresas, no próximo ano, vão exigir acções concretas e tangíveis. Até ao momento, os programas apresentados, logo no início da posse do novo Governo, não podem ser mensurados. O ‘programa intercalar’, por exemplo, não apresentou resultados de curto prazo, como ficou proposto, em matérias como a promoção da produção nacional e o incentivo às exportações fora do sector petrolífero. Tão grave isso, os esforços individuais que o sector privado mobilizou foram largamente descompensados com a manutenção da inflação elevada e com a alteração da política cambial que arruinou os rendimentos e as reservas em moeda nacional.
Quando João Lourenço se apresentar à Assembleia Nacional para radiografar o ‘estado da Nação’, mais do que o passado, interessará saber os seus planos concretos para que 2019 seja melhor do que 2018. Depois do desânimo chinês que largou apenas dois dos pelo menos 10 mil milhões pretendidos; após a consumação do acordo de financiamento com o FMI que promete mais apertos em toda a dimensão, interessa mesmo saber quais sãos os ‘trunfos de compensação’ do Governo.
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