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Dr. Massano, continuo em dúvidas se se gastariam “absolutamente” os mesmos 30 milhões USD…

11 Aug. 2020 César Silveira Opinião

Na recente entrevista à Televisão Pública de Angola, o governador do Banco Nacional de Angola, José de Lima Massano, garantiu que, se o Governo não gastasse 30 milhões de dólares com a produção da série do kwanza 2020, investiria o mesmo valor com a reposição das notas da família 2012 que se fossem deteriorando, sobretudo porque estas têm o período de durabilidade inferior ao da nova família.

Ora, apesar da reconhecida experiência de José Massano na banca e, sobretudo, na governação do BNA, fica difícil aceitar que, nesta conta, esteja tão certo quanto 2+2=4. Foi exactamente isso que Massano passou ao afirmar “absolutamente”, quando questionado se se gastariam os mesmos 30 milhões dólares com o exercício de reposição das notas que se fossem deteriorando.

Não pode ser assim tão linear, visto que uma coisa é o exercício de imprimir apenas notas já desenhadas, pensadas e trabalhadas, sem custos com pesquisas, auditorias, consultorias e designers. Outra coisa é o processo completo. Só por aqui, é fácil concluir que é impossível gastar-se absolutamente os mesmos 30 milhões de dólares.

Há outras contas possíveis. Têm que ver, por exemplo, com a diferença entre o volume de notas a imprimir no exercício de reposição das deterioradas e o que é impresso no exercício de introdução de uma nova família. Parece lógico concluir que a quantidade nunca é a mesma e, sequencialmente, o investimento feito na impressão parece não ser “absolutamente” o mesmo. Salvo se o volume impresso em cada exercício de reposição das notas seja taxativamente igual ao colocado a cada lançamento de uma nova família da moeda.

Aquando do lançamento da série 2012, estimou-se que seriam colocadas em circulação cerca de 750 milhões de notas. Portanto, fica difícil aceitar que em cada exercício de reposição tenham sido impressas as mesmas 750 milhões de notas.

As contas de Massano podem estar certas se a referência for o investimento acumulado que seria feito ao longo de vários anos com a reposição das notas deterioradas. E se for este o caso, o governador do BNA deixou de responder à questão sobre se é ou não oportuno investir 30 milhões de dólares numa altura de crise. Portanto, as dúvidas continuam.

César Silveira

César Silveira

Editor Executivo do Valor Económico