Estávamos todos enganados em relação ao FMI?
Todos, afinal, estivemos, durante meses e meses, enganados. Economistas, governantes, estudantes, jornalistas, empresários, especialistas nacionais e internacionais. As reformas em curso no país nada têm que ver com imposição do FMI. Trata-se pura e simplesmente do resultado da compreensão interna sobre a necessidade urgente de aplicá-las para se evitar o precipício, segundo palavras do Presidente João Lourenço.
É verdade que não é meritório duvidar das palavras do mais alto mandatário da Nação, mas, neste caso, deve ser encarada como uma situação normal e pontual, visto que se permitiu que a mentira fosse contada várias vezes e por diversas pessoas, algumas com créditos firmados a nível nacional e internacional, inclusive governantes.
É verdade que, considerando a soberania, Angola, se quisesse, rejeitaria qualquer imposição do FMI. Também é verdade que o FMI não desembolsaria três mil milhões sem a possibilidade de impor o que bem quisesse e entendesse. No limite, pode aceitar-se que o Governo angolano se terá revelado um bom aluno, fez o desenho pensando no que o FMI gostaria de ver, acertou e recebeu nota positiva.
No entanto, o Governo sabe que, depois da aprovação do FMI, está proibido de recuar sem a permissão da equipa de Bretton Wood. Por exemplo, a não implementação do IVA em 2019 não levaria o país ao precipício, mas o seu cumprimento representava o cumprimento de mais uma medida aprovada pelo FMI. Por esse e outros exemplos, embora não seja meritório duvidar do mais alto mandatário do Estado, parece existirem margens para continuar a posicionar-se do lado da maioria, que, ao longo de meses, acreditou e atribuiu ao FMI as imposição das medidas em curso. Ora, e se todos estiverem enganados? É difícil sublinhar o que seria mais grave. Se a maioria estivesse enganada ou o único enganado fosse apenas o Presidente da República.
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