“Este país dá medo. O que estamos a deixar para as gerações futuras é terrível.”
Formado no Brasil, professor universitário em Luanda, Francisco Esteves não esconde que gostaria de ver algumas políticas brasileiras a serem repetidas em Angola. Por exemplo, na aposta na agricultura e na contestação ao FMI. Crítico da opção governamental de recorrer ao Fundo, o professor de economia não tem dúvidas de isso só serve para se empobrecer ainda mais. Em 2025, vai lançar um livro em que defende uma mudança da Constituição de forma a dar mais força ao poder judicial. Francisco Esteves não tem dúvidas de que Angola vive em crise há seis anos, de que o “sector privado está morto” e que o actual Governo obedece a ordens ditadas do estrangeiro. Por isso, confessa, sentir medo.
O país está em crise e, pela primeira vez, não é provocada, necessariamente, pela queda do preço do petróleo. O Orçamento Geral do Estado (OGE) estima o barril a 75 dólares e no mercado internacional tem estado a variar entre os 76 a 80 dólares. Qual é a avaliação que faz?
A minha posição sempre foi bem clara. O nosso problema é antigo herdado do sistema colonial. A nossa elite política sempre foi atrás dos efeitos e não das causas. O problema é a dependência de exportações de matéria-prima. Quase todos países africanos que foram colonizados têm esta estrutura económica. Para que evitássemos estas questões todas, tínhamos de mudar este cenário, ou seja, Angola, após a sua independência, não poderia depender só de produtos primários. Pegava estes produtos primários e ia transformar e agregar valor a este produto. Estamos a falar da industrialização. Quase em 50 anos, não fizemos com a desculpa de que não havia dinheiro. Quando o preço do petróleo subia, Angola tinha mais dinheiro, adiávamos o processo, então, tudo que está a acontecer os economistas já o previam. Sempre teremos esta crise, porque estamos a vender petróleo e diamante bruto e importamos os derivados do petróleo. Tudo é caro. Recebemos pouco dinheiro das exportações, ou seja, vende-se jinguba e queremos comprar carro. Esta é a característica dos países que dependem do sector primário. Neste tempo todo não se fez uma transformação estrutural. Muitos países africanos já começaram a fazer essa transformação, o Botswana está a fazer isso.
Apesar do preço do petróleo estar a favor do OGE, nos últimos anos, o país tem registado baixas de investimento, o que se tem traduzido também na baixa de produção…
O sector petrolífero é intensivo de capital e utiliza pouca mão-de- obra. O contributo do sector petrolífero na nossa economia, além do imposto, não tem nenhuma contribuição. A medida de longo prazo é pegar o sector petrolífero que está de costas para nossa economia e virá-lo para a economia
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