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ANTÓNIO VIERA, ANTIGO DIRECTOR-GERAL DA COBALT ANGOLA

“Estes atrasos dizem-me que não vai haver refinarias do Soyo ou do Lobito”

ENTREVISTA. Antigo director-geral da Cobalt Angola considera “excelente” ideia do Ministério dos Petróleos de fomentar a transformação da matéria-prima localmente, mas considera-a uma “utopia”. Sobre o recente acordo entre a ANPG e a Total que envolve os campos Cameia e Golfinho, no Bloco 20/11, António Vieira não tem dúvidas de que o povo “angolano foi espoliado”. 

“Estes atrasos dizem-me  que não vai haver refinarias do Soyo ou do Lobito”

O Ministério dos Petróleos manifestou, no Conselho Consultivo,  a intenção de acabar ou reduzir ao máximo a exportação de recursos em bruto. Acredita que se vai conseguir criar uma cadeia de valor no sector de recursos minerais e petrolífero?    

A ideia é excelente e acredito que todos nós esperamos pelo dia em que possamos transformar os nossos recursos. O que poderá haver melhor do que passarmos a exportar productos acabados? Porém, é mais um sonho, podemos até dizer que é mais uma utopia. Precisamos de mudar muita coisa, inclusive a nossa "atitude de intermediário". Estamos rodeados de exemplos no nosso dia-a-dia. Porém, com boa vontade, é possível. O cidadão angolano educado prefere intermediar e receber uma ‘micha’ a produzir um produto final. Temos vários exemplos, a começar pelo petróleo. Produzimos mais de um milhão de barris e não refinamos mais de 10% da nossa produção. Produzimos diamantes e exportamos uma percentagem pequena de diamantes lapidados. Produzimos ouro, mas não exportamos joias. E por aí fora. É possível? Acredito que sim. Porém, não estamos em condições para o fazer hoje, e não acredito que o possamos fazer nos próximos 10 anos.


Vai pôr-se fim às exportações de matéria-prima?

Não. Não acredito, para além de que neste momento não é possível. Não existem refinarias. Não existe uma indústria de joalharia. Não existem condições para o fazer nem sequer legislação e garantias para que estrangeiros o venham fazer por nós. E, como estamos ‘famintos’, vamos continuar a exportar matérias-primas como até agora. Aliás, é conveniente sublinhar que é exactamente isso que o Ocidente espera de África.


O Governo será capaz de atrair investidores estrangeiros com as actuais políticas? 

Eu não acredito que investidores estrangeiros que possam fazer diferença se juntarão a nós muito facilmente.  Porquê? Falta de mão-de-obra especializada e condições para trabalhar. E os que se atrevem a vir até nós vêm a coberto de salários milionários, a cobro de oportunidades que não se podem perder. Depois há o problema de retorno dos ganhos e ainda existe a falta de confiança no nosso sistema de justiça. Nos meus contactos com investidores de várias latitudes, aparece sempre a pergunta sobre como se solucionam os litígios.  A nossa reputação em termos de justiça é muito má.

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