EXPECTATIVAS
O Congresso do MPLA, apesar da conotação que lhe é associado como sendo uma sentada de renovação do mesmo, é sempre um acontecimento digno de expectativas. Há uma explicação relativamente simples. O partido dos camaradas, sob certo ponto de vista, é a instituição mais importante do país. A sua omnipresença em todas as esferas da vida, sobretudo por razões históricas, deu-lhe a ‘prerrogativa’ de condicionar, em certa medida e em última instância, o destino de cada angolano. Pelo sim e pelo não. No bom e no mau sentido. Não há qualquer exagero em admitir-se que até hoje nada ‘respira’, em Angola, sem a presença física ou metafísica do MPLA. As instituições do Estado, a todos os níveis, funcionam sob a inegável batuta do partido dos camaradas. Incluindo aquelas nas quais são vetadas influências partidárias, por limites éticos e constitucionais. Incluindo aquelas que têm, por vocação absoluta, a defesa da republicanidade do Estado.
Toda essa presença faz do Congresso MPLA um evento necessariamente marcante, porque ressuscita expectativas sobre a possibilidade, ainda que remota, de novos caminhos. De novas opções políticas. E de novas soluções para a multiplicidade de cancros que se metastizaram pela política, pela sociedade e pela economia.
O contexto de crise económica e financeira que mergulhou o país num mar de incertezas sobre o futuro imediato coloca ainda uma pressão maior sobre os congressistas do MPLA, na perspectiva da reflexão sobre a necessidade de mudanças práticas. Mudanças, sobretudo, na gestão da coisa pública e os sinais podem ser dados através de atitudes simples. Basta que haja vontade. Basta que a vontade seja imposta.
Tomemos como o exemplo a promiscuidade, sistematicamente questionada, entre os interesses públicos e privados, na gestão dos recursos públicos. Os congressistas do MPLA têm a obrigação moral de reanimar, internamente, a viabilidade da probidade pública. Têm de ter a coragem de dizer que um ministro não pode gerir interesses privados ligados ao sector que dirige. Têm de criticar a postura de governantes a nível local e central que condicionam projectos privados, porque entendem que afrontam os seus projectos pessoais. Têm de questionar o comportamento dos servidores públicos que entram nos gabinetes, pela manha, a pensar em como fazer negócios consigo próprios, aproveitando-se das respectivas posições. E saem pela noite a pensar em como ganhar dinheiro, facilitados pelos cargos que ocupam. Mas não bastará isso. O debate só será consequente e válido se for ao ponto de evoluir para uma espécie de pacto de regime interno, que consagra uma verdadeira punição dos prevaricadores. De resto, é no mínimo atroz que, em plena situação de uma dramática crise, circulem relatos indesmentíveis de que muito ‘boa gente’ viu exactamente no definhar da maioria a oportunidade para juntar os milhões que não faltam nas contas bancárias.
Está relançado o desafio. À porta estão as eleições de 2017 e o tema da gestão da crise será indiscutivelmente o ‘calcanhar de Aquiles’ do MPLA. Um debate destemido e comprometido, com visibilidade fora, seria uma forma de dizer, ou de fingir, que há vontade de mudança.
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