Investimento de quase um milhão kz gera facturação mensal de 120 mil
TRANSPORTE. Municípios de Luanda assistem ao crescimento de uma nova forma de transporte de passageiros, através das kupapatas. Adolescentes e jovens estão envolvidos no negócio que permite a recuperação do investimento em menos de um ano.
Muitos operadores das conhecidas ‘kupapatas’ estão a optar por dedicar-se ao serviço de transporte de passageiros nas zonas periféricas de Luanda, sobretudo em Viana, Kilamba Kiaxi, Cazenga e Cacuaco, que têm difícil acesso e falta de transportes públicos. A justificação é que o negócio de táxi está agora mais rentável do que o transporte de mercadorias.
Os operadores adaptam na moto, feita para transporte de mercadorias, dois bancos e uma sombra produzida nas serralheiras. Geralmente, as motorizadas transportam seis passageiros, contudo existem algumas com capacidade de levar até nove.
O preço pago por cada passageiro varia de 150 a 200 kwanzas, dependendo da distância e da estação de ano. Nas horas de pouca movimentação, o preço reduz para 100 kwanzas. Os operadores explicam que, em dias considerados “bons”, a facturação risca o tecto dos 10 mil diários, contra os 8 mil dos dias menos corridos. Neste valor é subtraído 6 mil, em regra, entregue aos patrões, e os restantes servem para cobrir as despesas do parqueamento, combustível e divisão entre o condutor e o seu auxiliar (cobrador).
Contas feitas, numa semana o dono da motorizada recebe 30 mil, em um mês chega aos 120 mil. Valores que permitem, em nove meses, recuperar o investimento de quase um milhão de kwanzas aplicados na aquisição da motorizada, adaptada com bancos e sombra. Já ao motorista e cobrador fica reservada toda a facturação de sábado.
Yano Manuel, motorista, explica que o negócio “é rentável” tanto para os patrões como para os funcionários e sublinha ser necessário entrar cedo devido à concorrência, de modo a fechar-se o dinheiro do dia antes da hora do almoço. “É mais rentável fazer táxi do que ficar parado à porta de um armazém à espera de um frete que nem sempre aparece. O segredo é sempre entrar mais cedo na via, entre as cinco e as oito horas em que toda gente sai de casa para o serviço”, conta.
A maior parte dos condutores são adolescentes e jovens, que fazem da actividade o seu emprego. Uns afirmam que o rendimento serve para auxiliar os pais e a formação académica. É o exemplo de Cláudio Silva, de 17 anos. Conta que entrou na actividade como cobrador, passados uns meses passou a motorista. Com o valor ganho, auxilia nas despesas da família e custeia a formação. “O dinheiro que consigo todos os dias entrego uma parte à minha mãe e outra guardo para pagar a propina do colégio. As dificuldades da família fizeram com que procurasse uma forma de ajudar, encontrei no táxi a solução”, conta.
Mas nem tudo ‘é um mar de rosas’, como afirmam alguns patrões, já que a actividade também está cheia de riscos. O investimento muitas vezes não é recuperado em nove meses por ocorrências de avarias ou de condutores que não têm responsabilidades de cuidar do meio. Elizandro Martins e João Gomes, ambos proprietários de kupapatas, referem que é importante sempre procurar “estar em cima do condutor” para se assegurar a manutenção dos meios aos domingos.
“A forma de tudo dar certo é ter motorista sério. Existem aqueles que gostam de dar ‘falidas’ (entregar a kupapata a terceiro) sem consentimento do dono, não ligam os sinais de avarias”, refere João Gomes.
Além das zonas periféricas, a tendência deste tipo de táxi ganha espaço na urbanização Nova Vida, em Luanda.
Sustenta cadeia de desempregados
Em todas as paragens, existe o famoso ‘staff’ que se responsabiliza pela organização das motorizadas, de forma a não criar congestionamento e impedir embarque e desembarque de passageiros em locais impróprios. A troco deste serviço, todos os condutores a cada viagem são obrigados a efectuar o pagamento de 100 kwanzas.
Este serviço é feito também por adolescentes e jovens equipados de coletes verdes e laranjas. Muitas vezes, a cobrança desta ‘taxa’ resulta em pancadaria quando o condutor resiste a cumprir a regra.
Nesta cadeia alimentada pelo negócio, figuram também os chamados lotadores que têm a missão de chamar pelos passageiros, em troca de 150 a 100 kwanzas por cada motorizada.
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