João Lourenço afirma que "Todos nós fizemos parte do sistema"
O Presidente da República, João Lourenço, admitiu esta segunda-feira que “fez parte do sistema” que sustentou o seu antecessor, mas salientou que "só os que conhecem o regime por dentro estão preparados para fazer grandes mudanças".
Em entrevista à Deutsche Welle (DW), João Lourenço, que foi ministro da Defesa e secretário-geral do MPLA, sublinhou que “ninguém pode dizer que não fazia parte do sistema”, mas é também por conhecer o sistema por dentro que tem condições para “corrigir o que está mal”.
Desde que tomou posse, há dois anos, João Lourenço tem dado prioridade ao combate à corrupção e o regresso dos capitais ao país.
"Quem fez as grandes mudanças não são pessoas de fora, são as que conhecem o sistema”, afirmou o chefe de Estado, acrescentando que “somos nós, do partido que sempre governou o país, que estamos a fazer as reformas que eram absolutamente necessárias que fossem feitas”.
Na entrevista, João Lourenço falou também, pela primeira vez, sobre a investigação do 'Luanda Leaks', que expôs supostos esquemas financeiros ligados a Isabel dos Santos, desmentindo que não estão a decorrer quaisquer negociações com a empresária, recentemente constituída arguida em Angola.
“Não se vai negociar, na medida em que houve tempo, houve oportunidade de o fazer. Portanto, as pessoas envolvidas neste tipo de actos de corrupção tiveram seis meses de período de graça para devolverem os recursos que indevidamente retiraram do país. Quem não aproveitou esta oportunidade, todas as consequências que puderem advir daí são apenas da sua inteira responsabilidade”, declarou.
Questionado sobre outras investigações judiciais, em particular sobre José Eduardo dos Santos, explicou que os antigos Presidentes gozam de imunidade durante pelo menos cinco anos e que compete à justiça tomar essas decisões, rejeitando que existam processos políticos.
"Quem abre os processos crime na Justiça não são os políticos. É a própria Justiça quem vai atrás de possíveis crimes. Portanto, todos aqueles que estão a contas com a Justiça que não pensem que é o poder político quem os empurrou para a Justiça”, adiantou.
Garantiu que “Justiça tem as mãos livres para actuar” e que ninguém pode dizer “‘eu não posso ser ouvido'” ou “constituído arguido”.
Quanto ao caso do ex-vice-presidente Manuel Vicente, acusado de pagar quase um milhão de euros de suborno a um procurador português, lembrou que este goza também de imunidade e que o facto de ter sido pedido que o processo fosse transferido para Angola, “não significa absolvição”.
João Lourenço disse também que Manuel Vicente não é seu conselheiro, uma “invenção” que atribui “àqueles que não queriam que o processo fosse transferido de Portugal para Angola”.
O chefe do executivo frisou que o facto de ter assistido, ao longo dos anos, à corrupção no país e “por não concordar que a situação continuasse”, decidiu travar este combate.
“Hoje temos a oportunidade de mudar esse estado das coisas, pensamos que é o momento de fazê-lo. Sabemos que é preciso muita coragem. Encontramos alguma resistência. Preferimos lutar contra ela do que nos acomodarmos e deixar que as coisas continuem como antes”, reforçou.
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