João Lourenço arrisca-se a ter contas bloqueadas e viagens proibidas
RELATÓRIO. Consultora revela detalhes de alegada investigação das autoridades norte-americanas a João Lourenço. Iniciadas há cerca de um ano, investigações terão desacelerado no final do ano em resultado de lobby, mas tenderão acelerar nos próximos meses, com a administração Biden.
Procuradores norte-americanos estão a investigar o Presidente João Lourenço, sua família e parceiros de negócio, por eventuais violações das leis e regulamentos dos EUA e, caso se confirmem as suspeitas, os implicados podem ter activos congelados, contas bloqueadas e viagens proibidas.
O alerta vem no relatório com o título ‘Administração dos Estados Unidos Aumenta a Investigação ao Presidente Angolano e Parceiros de Negócios’ da consultora Pangea Risk, especializada em análise de informação para gestão de risco sobre negócios em África e no Médio Oriente.
O documento, consultado pelo VALOR, dá conta que as investigações iniciaram “há quase um ano” mas que tendem a ser intensificadas “sob a administração Biden” depois de terem conhecido uma desaceleração em finais de 2020 “com apoiantes do então presidente Donald Trump, como o proeminente angariador de fundos Elliott Broidy, que fizeram lobby em nome do Governo angolano”.
“Uma empresa de defesa detida pela Broidy ganhou grandes contratos com o actual governo angolano. Broidy confessou-se culpado, em Outubro de 2020, em um outro caso de lobby estrangeiro e foi perdoado por Trump em Janeiro de 2021. Outro defensor do fortalecimento das relações Angola-EUA foi o ex-secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo, que visitou Luanda em Fevereiro de 2020 e encontrou-se com o Presidente Lourenço para discutir o fortalecimento dos laços económicos e o apoio à luta de Angola contra a corrupção”, refere a consultora. E salienta que “a investigação está, portanto, a tentar provar que João Lourenço e seu governo não só violam as próprias leis de probidade de Angola, mas também infringem os estatutos, leis e regulamentos” norte-americanas.
“Se os EUA encontrarem jurisdição, as implicações para o Presidente Lourenço e sua alegada rede de familiares e associados serão muito mais amplas e graves, incluindo potenciais congelamentos de activos, proibições de viagens, suspensão de contas bancárias e outras sanções dirrecionadas contra a família mais proeminente de Angola e seus parceiros”, alerta a consultora, sublinhando que um desfecho desfavorável para João Lourenço teria necessariamente implicância nas relações entre Angola e os Estados Unidos, bem como com as diversas instituições bilaterais.
A Pangea-Risk sublinha que os procuradores consideram “as diferentes camadas de influência e empresas interrelacionam-se de forma complexa para ofuscar a propriedade e desviar fundos públicos em benefício da rede e do MPLA”. Entre as empresas, o relatório cita a “Orion Agência de Marketing, a Publicidade e Produção SA (Orion), que ajuda a financiar o MPLA e a enriquecer a própria família”, assim como a Gefi SA, braço empresarial do MPLA, salientando que esta empresa está “há muito envolvida em opacos contratos estatais”. Cita ainda “um novo conjunto de empresas controladas pela rede que actuam transversalmente em sectores como construção, bancos, imóveis e compras militares”.
Como um dos exemplos do “novo conjunto de empresas”, o relatório cita a Omatapalo - Engenharia & Construção, SA (Omatapalo), “empresa ligada ao Presidente Lourenço, que obteve em 2019 pelo menos três obras estatais no valor superior a 450 milhões de dólares”. Segundo o relatório, a investigação também está a averiguar “transações fraudulentas e suspeitas feitas por outras empresas controladas por Lourenço, incluindo compras militares pela Simportex EP, vários bancos, empresas de construção e empresas holding sob seu controle”.
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