Krá krá... Dêem cá a Efacec!
A decisão do governo português de nacionalizar a participação angolana na Efacec pode e deve ser comparada a um assalto, cujos executores preparam tudo ao detalhe. Estudam os movimentos, os passos e o comportamento da vítima, assim como os de todos à sua volta. Preparam-se convenientemente para que nada falhe. Para que consigam apoderar-se do dinheiro, carro ou/e ou outros bens, como se de uma magia se tratasse.
No caso em concreto, o bem em causa são os 71,73% que a Winterfell 2 Limited (detida por Isabel dos Santos e a Ende) controla na Efacec. O governo português justificou a decisão com “o excepcional interesse público”, tendo em conta “a valia industrial” da Efacec, assim como “o seu conhecimento técnico e a sua excelência em áreas estratégicas para a economia” portuguesa.
Justificativa compreensível, mas não aceite, visto que os portugueses também ajudaram a criar condições para que a Efacec enfrentasse “diversas dificuldades no plano comercial e operacional” que comprometeram a situação financeira da empresa.
O argumento das autoridades portuguesas pode servir de prova de que o assalto foi devidamente orquestrado e planeado e iniciou com a decisão das autoridades portuguesas, na sequência da solicitação das autoridades angolanas, de arrestar não apenas as contas de Isabel dos Santos, mas também as das empresas, criando condições para as tais “diversas dificuldades”.
Ou seja, as autoridades portuguesas aproveitaram-se do binómio inocência e uma espécie de obsessão por Isabel dos Santos das autoridades angolanas para receber o activo que, em 2015, aceitaram vender a investidores angolanos. Na altura, enfrentavam uma crise económica e financeira pelo que não importava quem era o comprador. O importante era salvar a empresa e os mais de dois mil postos de trabalho. A Efacec registava naquele ano prejuízos de 20,5 milhões de euros.
Em 2016, entretanto, quebrou-se um período de três anos de prejuízos, registando-se um lucro de 4,3 milhões de euros. Resultado que mostra bem não apenas a valia do então novo investimento, como o potencial da empresa com estatuto não apenas português, mas internacional. Dados bastantes para que as autoridades angolanas encarassem o dossier com outros olhos e mentes. Mas não. Por exemplo, ao garantir que a nacionalização da empresa em nada afecta o Governo, por estar salvaguardado o interesse do Estado (provavelmente referindo-se à indemnização prevista), o Procurador-Geral da República mostra pleno desconhecimento de negócio, vantagem competitiva e mais-valia empresarial. Mostra que as autoridades ignoraram, na equação, o valor imensurável de ser accionista maioritário de uma empresa internacional e com forte potencial económico, tendo em conta a tendência mundial de se apostar nas energias renováveis. Parece que o que conta é apenas o dinheiro na mão e nada mais. Pena!
Desde muito cedo, notou-se a intenção das autoridades portuguesas de ‘klakatcharem’ o activo. O primeiro sinal foram as informações dando conta da dívida contraída por Isabel dos Santos junto da banca portuguesa para a realização da operação. Seguiram buscas e investigações à empresária por suposto branqueamento de capitais na operação de compra da Efacec. Mas, agora, fica claro que aquela operação serviu mais e sobretudo para branquear a verdadeira intenção dos portugueses. Pena é que Angola encarava todo este movimento com leviandade, com determinada corrente a festejar a suposta desgraça de Isabel dos Santos. A actuação das autoridades portuguesas mostra que nunca ‘engoliram’ o facto de uma empresa estruturante estar sobre domínio de um simples colonizado. E atenção: desfecho semelhante pode acontecer com o Eurobic, visto que Portugal nunca engoliu a venda do BPN ao então BIC, negócio que ajudou o banco a ter a posição que tem hoje.
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