Leilões do BNA caminham para o segundo mês só em euros
MERCADO CAMBIAL. Bancos comerciais não vêem ‘notas verdes’, desde a segunda semana de Maio, altura em que o banco central vendeu 217,8 milhões de dólares, para 24 dos 28 bancos autorizados. Euros vendidos já ultrapassam os 700 milhões, mas não chegam às empresas, segundo queixas de investidores.
A venda exclusiva de euros pelo Banco Nacional de Angola (BNA) já totalizou, desde a segunda semana de Maio, 716,2 milhões de euros (correspondentes a 809,7 milhões USD), em cinco leilões ininterruptos desde que o dólar ‘saiu de circulação’ oficial, de acordo com números dos relatórios semanais do banco central, compilados pelo VALOR.
A semana de 9 a 13 de Maio foi a última vez em que a entidade dirigida por Valter Filipe vendeu a divisa norte-americana, com uma colocação de 217,8 milhões de dólares, montantes absorvidos por 24 dos 28 bancos que operam no sistema financeiro.
De lá para cá, os leilões prosseguiram, mas exclusivamente em moeda europeia – o euro – que, em duas semanas, a contar desde 13 de Maio, acumulou 334,9 milhões de euros em saídas segmentadas e restritas aos bancos comerciais (relatórios não referem vendas a casas de câmbio e similares).
Outros 106,9 milhões de euros foram ‘despachados’ pelo BNA, entre 30 de Maio e 3 de Junho, com vista a cobrir, sobretudo, necessidades de importação das empresas prestadoras de serviços ao sector petrolífero, com uma saída de 35,8 milhões em leilão de preço.
Parte do montante, precisamente 71,1 milhões de euros, foi distribuído aos bancos para coberturas de responsabilidades dos Ministérios da Saúde, para aplicação na compra de medicamentos, das Telecomunicações e da Energia e Águas, além de alocações de encargos da TAAG, órgãos do Estado e operações diversas de natureza particular.
O ciclo de vendas em euros estende-se a 10 de Junho. Ou seja, até à semana antepassada, altura em que a colocação de divisas em euros contabilizava mais 218,4 milhões, tal como avançado por este jornal na sua edição do dia 20.
Foi também a 20 deste mês que Valter Filipe decidiu publicar os resultados da última ‘licitação’ de divisas, fazendo um último reforço de 56,0 milhões de euros, equivalentes a 62,6 milhões de dólares, para “operações diversas”.
BNA NO ‘SILÊNCIO’
Nos relatórios de balanço de divisas do BNA, não são dadas justificações sobre a ‘saída de cena’ do dólar no circuito formal e as razões dos leilões exclusivos na moeda europeia. Mas recorrentes argumentos do Governo ‘culpam’ a queda do preço do petróleo no mercado internacional, a qual são associados os ‘castigos’ das autoridades norte-americanas que proibiram vendas de dólares com base no alegado “incumprimento de regras prudenciais e de transparência financeira”.
Há pouco mais de duas semanas, no entanto, vários especialistas, entre os quais Alves da Rocha e Galvão Branco, anteciparam ao VALOR os perigos de também o euro vir a ‘desaparecer’ do país por conta da situação operacional da banca nacional a que o próprio governador do banco central reconheceu “estar à margem” das regras utilizadas por outros mercados.
EUROS NÃO CHEGAM ÀS EMPRESAS
Apesar de o banco central prosseguir com os leilões em euro, há quem se queixe de o novo modelo de distribuição de divisas “estar a andar para trás”. Na opinião das empresas associadas da AEBRAN – Associação de Empresários Brasileiros em Angola – a venda de euro caminha no mesmo sentido que o dólar, pelas dificuldades que as empresas têm em aceder à moeda. “Essa venda de euro do BNA não chega aos operadores. Até os portugueses que são [também] donos da moeda estão a sair em massa de Angola. Qual é a empresa que tem euros?”, questionam os membros da AEBRA, pela voz do seu presidente, Cleber Corrêa.
Para o líder da AEBRAN, a venda não significa que os agentes económicos tenham acesso à moeda e ‘aponta o dedo’ aos bancos, criticando o processo de disponibilização das divisas.
“Há funcionários que solicitaram, desde Dezembro, transferências de salários nas moedas dos seus países de origem mas que, até agora, não tiveram resultados”, exemplificou o empresário, que já avançou com um projecto de conversão monetária entre o kwanza e o real brasileiro ao Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES), para a redução das pressões por que passam os associados da AEBRAN.
Euros em cinco semanas
69,2 milhões – semana de 16 a 20 de Maio
265,7 milhões – semana de 23 a 27 de Maio
106,9 milhões – semana de 30 de Maio a 03 de Junho
218,4 milhões – semana de 6 a 10 de Junho
56,0 milhões – semana de 13 a 17 Junho
Destacar: 9 a 13 de Maio, ultima semana que o Banco Nacional de Angola vendeu dólares.
JLo do lado errado da história