ANGOLA GROWING

NÃO HÁ CRÉDITO PARA NINGUÉM

Vamos dizer as coisas como elas se colocam. Os receios da banca na concessão de crédito às empresas não têm solução de curto prazo à vista. Se têm, ninguém as aponta com precisão. Ou, pelo menos, ninguém acredita nelas com profunda convicção. Nem o Governo, nem os bancos, nem as empresas. Veja-se o seguinte: o Governo junta a banca, numa única sentada, para lhe exigir mais compromisso com a economia, disponibilizando dinheiro fresco a quem tenha projectos viáveis. Os bancos reagem positivamente ao apelo governamental à frente das câmaras, apresentando de forma aligeirada as suas reticências. Mas, por trás dos holofotes, a descrição dos factos é realisticamente cruel: os níveis elevados do crédito malparado (estimados em 30%) não estimulam facilidades da banca; a cultura de inadimplência atrelada à morosidade da justiça no julgamento das queixas apresentadas pelos bancos não incentiva a cedência de crédito; as exigências cada vez mais acentuadas no cumprimento dos pressupostos regulamentares deixam os bancos mais tímidos e acentuam o rigor na avaliação dos projectos; as elevadas necessidades do Governo de recurso ao financiamento interno não ajudam propriamente os bancos a priorizar empréstimos às empresas; as incertezas quanto ao desempenho da economia este ano, com os cortes na despesa pública na ordem dos 30%, já em curso, também não animam as expectativas. Os bancos sabem disso, o Governo também sabe, assim como as empresas.

Por uma questão lógica, a solução dos receios passaria por ‘corrigir’ alguns dos problemas levantados, nomeadamente o do malparado, mas isso não daria garantias imediatas de expansão do crédito. Muito pelo contrário. A inversão da tendência do malparado passará, entre outras exigências, por uma avaliação mais criteriosa da viabilidade dos projectos. No contexto actual, isso contribui necessariamente para alguma retracção dos empréstimos, porque é dos próprios bancos a autocrítica sobre a inviabilidade de muitos projectos que, entretanto, foram e têm sido aprovados. Quanto aos demais receios apontados, sabe-se que não são desafios a ultrapassar no curto prazo. Não é em 2019 que a justiça se vai tornar mais célere no tratamento das queixas dos bancos, porque, além das limitações estruturais, está toda ela virada para a ‘campanha’ de combate à corrupção. Não é para já que o Governo vai deixar de sugar os dinheiros que os bancos teriam para ceder à economia, pelo que o Estado, por ser mais seguro, deve continuar a ser o cliente preferencial da banca. Aparentemente, estamos perante uma encruzilhada.

Aparentemente, pelo menos para já, não é possível exigir-se uma banca mais séria, cuidadosa e criteriosa e simultaneamente mais amiga das empresas.