O CUSTO DA ‘TRAIÇÃO’ DIPLOMÁTICA
Em Outubro de 2018, o VALOR explicou, em editorial, as consequências práticas da viragem diplomática pró-Ocidente determinada por João Lourenço. Uma das mais óbvias seria o descontentamento chino-russo, pela rivalidade quase natural destes dois gigantes, face ao bloco liderado pelos Estados Unidos da América. Mas também (e sobretudo) pelo facto de a aproximação apressada ao Ocidente significar traição incontida à China. Pelo apoio decisivo que este país prestou a Angola, no momento em que os Estados Unidos e a Europa viraram às costas ao país.
Estranhamente, o VALOR foi atacado até por alguns órgãos de imprensa públicos, mas, passado um ano, os factos parecem cada vez mais irrecusáveis. Por muito que a linguagem diplomática reafirme a manutenção de boas relações entre Angola e a China e não obstante as viagens e os encontros de João Lourenço com Xi Jinping, a proximidade entre Luanda e Beijing nunca esteve tão afastada no pós-guerra. É certo que, em parte, o resfriamento se deve à situação económica menos atractiva do país, mas isto só é verdadeiramente aplicável às relações comerciais e empresariais. Em termos estratégicos, nas relações Estado-Estado, a decepção chinesa começou a expressar-se logo na fragilização das expectativas angolanas, quanto ao volume de empréstimos a que teria acesso a partir da segunda maior economia do mundo.
Não tendo os mesmos argumentos financeiros que a China, a Rússia tem pelo menos os mesmos motivos geo-estratégicos para olhar para Angola com menos simpatia. Por isso é menos expectante que o encontro de João Lourenço com Vladimir Putin, em Sochi, antecipe caminhos para um comprometimento russo que vá além dos acordos de circunstância com efeitos irrelevantes na actual conjuntura de crise.
Este quadro relembra necessariamente uma lição óbvia que a diplomacia de João Lourenço atrasa em aprender. Nas relações entre países do terceiro mundo ricos em recursos naturais e os gigantes que dividem ideologicamente o comando da terra, os primeiros têm de fazer escolhas mais ou menos claras. Não se pode oferecer os mesmíssimos privilégios a dois inimigos poderosos, sobretudo quando quem oferece é excessivamente fraco. Um dos dois tem de ser descompensado de alguma forma, porque ninguém se compromete a fundo com o aliado do inimigo. É isso o que, de certa forma, se passa por cá. Os chineses esfriaram e os norte-americanos aos quais se ofereceu a alma vão ‘arrastaaaaaaaaaaaaaaando’.
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