ANGOLA GROWING
V E

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Depois de ter sido escolhido por José Eduardo dos Santos como o candidato do MPLA às eleições de 2017, João Lourenço entreteve-se por largos meses a passar a imagem de que percebia alguma coisa do que significava gerir país. Num certo dia, alguém lhe perguntou como gostaria de ser lembrado, após a sua passagem pela Presidência da República. A sua resposta não poderia ter sido mais emblemática e visionária. Mais coisa, menos coisa, com o timbre de quem sabia do que falava, Lourenço afirmou que gostaria de ser lembrado como o “homem do milagre económico”. Disse-o outras vezes de forma diferente. Em entrevista à espanhola EFE, aquando da sua passagem por Espanha, ainda na qualidade de candidato, trocou avisadamente Gorbachev por Xiaoping. Queria ser o homem que abriria a economia angolana ao mundo, como fez Xiaoping com a China, e não o sujeito que tentou reformas falhadas que acabaram por manter o Estado refém de uma poderosa oligarquia, como aconteceu com o russo Gorbachev.

O secretariado do Bureau Político do MPLA abriu a porta à agitação que agora anda a todo o vapor. A cúpula mais restrita do partido no poder orientou o seu Comité Central a convocar um Congresso Extraordinário para Dezembro próximo. O problema ou, pelo menos, o factor de inquietação está no pretexto invocado para a realização da reunião extraordinária. Quase ninguém acredita na balela de que a análise dos 50 anos de governação do MPLA, que coincidem com os 50 anos de Independência do país, é justificação bastante para preencher os critérios impostos pelos estatutos do MPLA. 

Já houve quem afirmasse que o aparente apego compulsivo do Presidente da República aos aviões resulta de uma possível ambição de materializar uma fantasia de infância. Literalmente quis-se com isso dizer que João Lourenço sempre desejou conhecer o mundo e usa o cargo de Presidente, no limite das suas forças, para concretizar o seu sonho de garoto com o máximo de conforto possível. Os angolanos são efectivamente muito bons, quando se trata de usar a criatividade para ridicularizar factos e fenómenos aparentemente complexos. É deste recurso criativo que resultou também o efémero e popularizado ‘meme’, segundo o qual “pessoa com talento para ser aeromoço lhe deram um país para governar”. 

Tratemos de alguns temas que preenchem as páginas deste jornal esta semana. O primeiro é sobre a revelação de que o Ministério da Agricultura e Florestas se prepara para aumentar as taxas de exploração florestal em até 300%. Não sendo a primeira tentativa, desta vez, as expectativas afirmam-se mais elevadas, já que se trata de uma orientação do ministro de Estado para a Coordenação Económica. Pelo menos é o que garantem as fontes do jornal que fazem questão de sublinhar que, perante o peso de Massano, Vera Daves não poderá tergiversar. 

Akinwumi Adesina, o nigeriano que lidera o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), desde 2015, habitou-nos com as suas preocupações sobre o destino do continente. Quando olha para as economias africanas, aponta para generalidades. Menciona o desafio da electrificação, do emprego para os jovens, da transição energética, da produtividade do sector primário, das mudanças climáticas, das novas tecnologias e do aumento da dívida. É uma lista de tarefas que o próprio refere insistentemente como essenciais para uma reforma estrutural da maioria esmagadora das economias africanas. Dito em termos sumarizados, é a ‘check list’ para o desenvolvimento teimosamente adiado.