V E

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11 Sep. 2024

Maçaricos do poder

Em Junho de 2023, o governador de Luanda fez o que pareceu uma denúncia de uma tentativa de corrupção que o teve como alvo. Manuel Homem não arredava o pé no seu obstinado plano de arrumar o comércio em Luanda, o que terá levado alguém a tentar demovê-lo com algumas luvas não quantificadas. Na altura, Manuel Homem não perdeu tempo. Pela sua própria voz, apressou-se a dizer aos luandenses que tinha sido tentado e deu a entender que não caíra nem por um milímetro na tentação do corruptor. E ficou-se por aí. Alguns dias depois, em entrevista à Rádio Essencial, o entrevistador perguntou a Manuel Homem se apresentaria queixa às autoridades competentes. Afinal, não se poderia esperar outra coisa de um governador integrado no Governo de um Presidente que tem no combate à corrupção a sua principal divisa. Manuel Homem fez de tudo para não dizer nada mas, perante a insistência do jornalista, comprometeu-se a apresentar publicamente os resultados do trabalho interno que a sua equipa faria a propósito. Já vai mais de um ano e até agora Manuel Homem não diz se apresentou queixa às autoridades, se tudo ficou resolvido entre camaradas ou se se tinha equivocado com o que viu. Simplesmente calou-se e, perante a passividade da comunicação social e dos luandenses, o assunto está, até prova em contrário, encerrado e esquecido.

 

O MPLA está em crise. É um facto. Ninguém pode mais negá-lo. Também é verdade que as raízes ou as consequências dessa crise podem ser analisadas sob várias nuances. Uns adiantam-se a antecipar a erosão do regime. Outros centram-se no perfil dos seus protagonistas. Preocupam-se em alertar para o facto de estar em causa uma disputa entre políticos autoritários, minimizando os eventuais efeitos para o processo democrático no MPLA e no país.

 

Álvaro de Boavida Neto, Higino Carneiro e Julião Mateus Paulo ‘Dino Matross’, até prova em contrário, ganharam legitimidade para protestar contra qualquer um que os junte entre os cobardes da ‘velha guarda’ poderosa do MPLA. Em momentos diferentes e de formas distintas, os três decidiram opor-se publicamente ao chefe da vez.

A manchete desta semana do Valor Económico traz uma revelação sobre o que deverá ser o tema predominante do Congresso que João Lourenço decidiu realizar em Dezembro próximo. Afiançam as fontes deste jornal que o presidente do MPLA se sente isolado. Não se vê acompanhado pelos seus ‘camaradas’ na defesa da sua governação que se resume numa das maiores tragédias do nosso tempo, num país coberto de recursos naturais, sem guerra, sem conflitos étnicos. Desgraça a todos os níveis. No social, no económico e no político. Como resposta a essa hipotética falta de solidariedade, João Lourenço quererá fazer uma limpeza do balneário na direcção do partido dentro de quatro meses.

Há quem defenda que o MPLA e o seu presidente não têm legitimidade legal para dividir o país, porque se servem de um poder adquirido de forma inequivocamente fraudulenta. Embora compreensível, é um raciocínio problemático, porque deixa o país necessariamente preso em 2022. E deixar o país retido na eleição passada não resolve nenhum problema.