ANGOLA GROWING
V E

V E

13 Mar. 2024

O pedinte ingrato

No início do primeiro mandato de João Lourenço, John Sullivan, então subsecretário de Estado norte-americano, passou por Luanda para deixar ordens claras. Se Angola quisesse contar com os Estado Unidos da América, devia afastar-se da Rússia e da China. Para os americanos, tratava-se de uma pré-condição inegociável para co-laborar com Angola nos domínios que interessavam a João Lourenço. Por meio de Sullivan, o recado dos americanos não dissimulava propriamente um teste de estresse. Os americanos Já sabiam o que a casa gastava e os passos que se seguiram da agenda externa de Luanda demonstraram que o regime angolano estava pronto e disponível para acatar as ordens.

 

06 Mar. 2024

OS EXTRATERRESTRES

Vamos afirmá-lo todas as vezes que forem necessárias. Além da arrogância e da alienação, uma das doenças incuráveis e que cegam os regimes longevos e autoritários é a incoerência. A outra é a inconsciência. ‘Juntas e misturadas’, a soberba, a contradição e a irreflexão são uma máquina de produção da ignorância, do descaramento e do ridículo em doses industriais.

A matéria é um exclusivo do Valor Económico. Diversas fontes diplomáticas e governamentais confirmam que João Lourenço vai à China neste Março. Sendo uma viagem mais do que esperada, João Lourenço e a sua equipa sabem que devem encontrar uma China mais exigente do que nunca. 

O economista Heitor Carvalho faz questão de revisitar sempre que pode um tema caro ao sistema financeiro, a falta de transparência. Numa das suas mais recentes declarações à Rádio Essencial, o director do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada de Angola (Cinvestec) pôs os operadores e o Banco Nacional de Angola no mesmo saco: são todos responsáveis pela ausência de transparência no sistema. E, de forma mais específica, no mercado do câmbio.

Já o dissemos vezes sem conta. O combate à corrupção e a todas as práticas lesivas ao erário tinha de começar de forma efectiva a partir de alguma altura. Mas a seriedade e a legitimidade do processo dependeriam necessariamente da habilidade e da visão da liderança do país em materializar um projecto que fosse o mais justo possível aos olhos da sociedade. Afinal de contas, Angola tem uma história e circunstâncias muito específicas que determinaram e continuam a determinar o saque ao erário. Era obrigatório tê-las em conta. Por isso, por muito complexo que parecesse, João Lourenço tinha apenas duas opções. Ou capacitava e libertava as instituições da justiça de modo a que avançassem de forma autónoma e independente contra tudo e todos, condenando quando houvesse provas e inocentando quando estas não existissem. Ou inventava um pacto com o seu próprio regime que estabelecesse novas regras com benefícios directos e palpáveis para a população. João Lourenço ignorou compreensivelmente a primeira hipótese porque, levada à letra, como chegou a afirmar certa vez o economista e político Justino Pinto de Andrade, todos tinham de se apresentar à esquadra de polícia mais próxima. Seria uma espécie de ‘pequeno grande’ fim do mundo para Angola. Colocada de lado a primeira hipótese, a João Lourenço não restavam alternativas ao segundo caminho, porque a recusa deste implicaria inevitavelmente a opção pela caça às bruxas, que acarretaria custos materiais, políticos e reputacionais incalculáveis. Ao que os factos provam até ao momento, não estávamos errados.