V E

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Há quem defenda que o MPLA e o seu presidente não têm legitimidade legal para dividir o país, porque se servem de um poder adquirido de forma inequivocamente fraudulenta. Embora compreensível, é um raciocínio problemático, porque deixa o país necessariamente preso em 2022. E deixar o país retido na eleição passada não resolve nenhum problema. 

Vamos ler e interpretar outra vez o país com dados. Desta vez com os números da Afrobarómetro, uma Organização Não Governamental que colecta informação sobre diversas matérias que interferem na vida dos africanos. 

Vamos ser claros e directos. Por esmagadora responsabilidade de João Lourenço, a conversa sobre a hipótese de um terceiro mandato mantém-se viva no debate público e nos corredores do poder. João Lourenço não assume a totalidade da culpa por uma razão muito simples. O MPLA tem a sua grande quota parte. Apesar de alguns sinais de claro confronto, manifestados por exemplo com o anúncio da pré-candidatura de Higino Carneiro, o MPLA até ao momento encontra-se perdido na escuridão de uma cobardia estarrecedora. Não há naquela turma de miúdos, graúdos e idosos gente com coragem suficiente para dizer na cara de João Lourenço que já vai tarde e que o seu tempo acaba em 2027. É embaraçosamente inacreditável!

A agenda do próximo Congresso Extraordinário do MPLA, previsto para Dezembro, é um tema que João Loureço tenta fechar a sete-chaves. Até figuras emblemáticas da direcção do MPLA juram de pés juntos que não têm o mínimo domínio do que está por vir. Garantem, embaraçados, que sabem tanto quanto se comenta no espaço público. E o que se diz, até ao momento, é que João Lourenço pretende alterar os estatutos para voltar à forma de José Eduardo dos Santos. O que significa expurgar o nº. 1 do artigo 120 que impõe o presidente do partido como o cabeça de lista das eleições gerais. Ou seja, João Lourenço quererá regressar ao formato da potencial bicefalia. Qual é a ideia? Manter-se no comando dos ‘camaradas’, caso todos os planos para o terceiro mandato falhem e se veja obrigado a aceitar outro candidato do MPLA à chefia do Estado.  

Adalberto Costa Júnior e Isaías Samakuva deixaram-se fotografar sorridentes e com um aperto de mão, na reunião do Comité Permanente da Comissão Política da Unita, esta terça-feira. A mensagem que se precipita do gesto parece óbvia. Aparentemente, os dois terão optado pela conciliação, após os eventos que destaparam o grave distanciamento entre ambos na última semana. Foi por iniciativa própria de cada um? Não é de todo improvável? Terão sido aconselhados para essa aproximação? É possível. O gesto encerra uma verdadeira reconciliação? Não é de todo credível. Porquê? Porque os sinais que denunciam o afastamento de Samakuva, face a Adalberto Costa Júnior, são excessivamente profundos para serem resolvidos com um simples aperto de mão. Basta revisitarmos os factos mais densos que se tornaram públicos em apenas uma semana.