O GOVERNO DO COMBATE AOS POBRES
Vamos ler e interpretar outra vez o país com dados. Desta vez com os números da Afrobarómetro, uma Organização Não Governamental que colecta informação sobre diversas matérias que interferem na vida dos africanos.
Comecemos pela questão social. Quase cinco em cada 10 angolanos experimentaram a pobreza extrema em 2024, concluiu o inquérito que começou a ser divulgado desde a semana passada. Atenção! É importante que se repita isso. Trata-se de pobreza extrema. Aquela que as Nações Unidas definem como a dificuldade grave de acesso a serviços e bens de suprimento de necessidades básicas. Isto significa praticamente não ter acesso ao que comer. Que o acesso à saúde e à educação quase não existe e que a água para beber, quando há, não é tratada. Há qualquer coisa de surpreende nisso? Certamente que não. Então por quer razão fazemos questão de mais uma vez escrever sobre isso? Porque, como sentenciou o génio Milan Kundera, “a luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento”. Porque, quando o Estado é transformado num delinquente impune e a barbárie vai além de todos os limites, os seus efeito perniciosos têm de ser catalogados e registados. Para que a História faça justiça e o tempo se encarregue do devido julgamento aos algozes do povo. É tão simples quanto isto. Colocar metade dos angolanos na pobreza extrema, sem guerra civil, sem desastres naturais repetidos e persistentes, não é penas de elevada insensibilidade. É a outra forma não declarada de tentativa de extermínio em massa. É o combate descarado aos pobres. Porque a fome derivada da privação severa de alimentos não é relativa. Este tipo de fome mata, assim como mata o descontrolo dos preços sem fim à vista.
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