O GOVERNO DO COMBATE AOS POBRES

07 Aug. 2024 V E Editorial

Vamos ler e interpretar outra vez o país com dados. Desta vez com os números da Afrobarómetro, uma Organização Não Governamental que colecta informação sobre diversas matérias que interferem na vida dos africanos. 

O GOVERNO DO COMBATE AOS POBRES

Comecemos pela questão social. Quase cinco em cada 10 angolanos experimentaram a pobreza extrema em 2024, concluiu o inquérito que começou a ser divulgado desde a semana passada. Atenção! É importante que se repita isso. Trata-se de pobreza extrema. Aquela que as Nações Unidas definem como a dificuldade grave de acesso a serviços e bens de suprimento de necessidades básicas. Isto significa praticamente não ter acesso ao que comer. Que o acesso à saúde e à educação quase não existe e que a água para beber, quando há, não é tratada. Há qualquer coisa de surpreende nisso? Certamente que não. Então por quer razão fazemos questão de mais uma vez escrever sobre isso? Porque, como sentenciou o génio Milan Kundera, “a luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento”. Porque, quando o Estado é transformado num delinquente impune e a barbárie vai além de todos os limites, os seus efeito perniciosos têm de ser catalogados e registados. Para que a História faça justiça e o tempo se encarregue do devido julgamento aos algozes do povo. É tão simples quanto isto. Colocar metade dos angolanos na pobreza extrema, sem guerra civil, sem desastres naturais repetidos e persistentes, não é penas de elevada insensibilidade. É a outra forma não declarada de tentativa de extermínio em massa. É o combate descarado aos pobres. Porque a fome derivada da privação severa de alimentos não é relativa. Este tipo de fome mata, assim como mata o descontrolo dos preços sem fim à vista. 


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