ANGOLA GROWING
V E

V E

A mais recente polémica que teve a liamba no centro envolveu a província de Cabinda. Um deputado na Oposição notou, em pleno debate parlamentar, que, com a chegada de João Lourenço ao poder, o consumo da canábis disparou na província. Uma deputada do MPLA reagiu a quente em defesa do seu presidente e a chefe do parlamento respondeu que esteve em Cabinda e não se apercebeu do aumento da produção ou do consumo da liamba. Mais cómica do que trágica, a reacção dos súbditos de João Lourenço deixou a entender que o Presidente da República estaria a ser responsabilizado directamente pela mudança do quadro da canábis no enclave. Ou, de forma mais precisa, por pouco não sugeriram que seria João Lourenço que teria estimulado ou autorizado, por decreto, o aumento do consumo da liamba na província mais a Norte. Naturalmente, outros ouvidos, salvaguardados da irracional emoção partidária, fizeram uma interpretação diferente. Para estes, o deputado da Unita estabeleceu uma relação de causa-efeito entre o agravamento da degradação da vida dos angolanos e o provável aumento dos níveis de frustração que estarão a levar, no caso de Cabinda, ao consumo desmesurado da (in)desejada planta.

 

22 Nov. 2023

O SUBMUNDO ANGOLA

É verdadeiramente estarrecedora a forma como a história se repete e como se inova nas suas grandes tragédias. Parte significativa dos angolanos sabe disso de cor e salteado. Há pouco mais de seis anos, viveu a ilusão meteórica da concretização da esperança, enganada por uma narrativa idílica de mudança. Transformações que se desejavam no conjunto da prática institucional e que se julgavam conducentes necessariamente ao paulatino processo de mudança de mentalidades. Ledo engano.

“Com raras excepções, os processos de intervenção do Banco Nacional de Angola na banca têm, historicamente, o traço comum da ausência total de transparência.” Esta foi a frase que abriu o editorial da edição de 6 de Julho de 2021. Desde então, são passados mais de dois anos e três meses e a afirmação mantém-se comprometedoramente válida. A única diferença, que não faz diferença nenhuma, é a mudança formal dos actores. Na altura, José de Lima Massano era formal e materialmente o cerne da questão. Hoje, o BNA tem à testa o governador Tiago Dias, mas, entre vários segmentos intelectualizados, persistem desconfianças legítimas de que Massano continua com larga influência nas decisões de cunho técnico e político no BNA.

 

Falemos do Novo Aeroporto Intenacional de Luanda (NAIL). Ao contrário de certa narrativa disseminada por vozes pró-governamentais, a questão central dos questionamento à nova infra-estrutura, em vésperas de inauguração, não é a sua utilidade. Um país que se posiciona pelo menos no ‘top 5’ das maiores economias da África subsariana merece, no mínimo, algo melhor do que o Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro. Podemos dizê-lo de outra forma. Qualquer meta que o país trace no plano da atracção do investimento privado estrangeiro tem de ter na renovação das suas principais infra-estruturas aeroportuárias uma das prioridades. E o principal aeroporto de Luanda, sendo a principal porta de entrda ao país, coloca-se necessariamente na linha da frente.

Na magistral obra de Catherine Belton ‘Os Homens de Putin’, Sergei Pugachev e Valentin Yumachev brindam nostálgicos sobre o metamorfoseado Vladimir Putin. Yumachev era genro e antigo chefe de gabinete de Boris Ieltsin, o quase tutor de última hora de Putin. Pugachev, por sua vez, era um dos grandes oligarcas russos, entretanto, caído em desgraça e perseguido em toda a linha pelos novos homens de Putin. Curiosamente, Pugachev e Yumachev tinham sido dos principais entusiastas e apoiantes da chegada de Putin à cadeira número um do regime do Kremlin. O mesmo Putin que, aos primeiros passos no poder, se dizia uma espécie de “gerente contratado”, insinuando uma certa relutância em assumir plenamente o posto, ao mesmo tempo que se mostrava “complacente aos que o tinham ajudado a ascender ao poder”.