V E

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Afirmemo-lo de imediato. Se 2023 foi globalmente um ano muito mau, não há uma única razão fundamentada que leve a crer que 2024 venha a ser menos ruim. Da economia, à política, passando pelas crises na área social, tudo se projecta para que este ano, se não for pior, venha a ser pelo menos uma repetição do ano passado. 

20 Dec. 2023

2023, O FACTO

Pelo oitavo ano consecutivo, o Valor Económico escolhe a Personalidade do Ano, que faz capa da sua última edição de Dezembro. Pela sua regularidade e consistência, é a iniciativa do género mais experimentada na imprensa angolana.

A ex-chanceler alemã, Angela Merkel, costuma ser citada de forma parafraseada de que quem chega ao poder não deve reclamar do que encontra. Pelo argumento que a suporta, é uma afirmação ética, avisada e responsável. Para qualquer mortal abaixo da média, é razoável partir do princípio de que quem concorre para governar uma autarquia, uma província ou um país tem ideias para oferecer uma proposta alternativa. Para isso o conhecimento dos desafios e da realidade que se quer governar é assumido como uma inevitabilidade. Pela simples razão de que ninguém pode resolver um problema que desconhece. Tão importante quanto o domínio da realidade, é a apresentação de estratégias e planos concretos para se resolverem os problemas.

O agrónomo Fernando Pacheco não poderia ser mais assertivo, no recuso à ironia. Aos ‘novos’ proclamadores da diversificação económica chama-lhes poetas. Nós já o afirmámos aqui vezes sem conta, mas por outras palavras. As questões de fundo que ambos levantámos e até as aparentemente mais paralelas são as mesmas. Pacheco recua até 1975 para lembrar aos poetas que “nunca houve vontade de colocar a agricultura a desempenhar o seu verdadeiro papel”. Dos líricos até se podem esperar respostas com aparente sentido. Há quem eventualmente se precipite a identificar exageros, ao relativizar-se o tempo da guerra nas contas da agricultura. Há quem vá lembrar-se imediatamente de dizer que os 48 anos da Independência não podem ser contabilizados, quando se trata de sumarizar o atraso da agricultura no tempo. Mas este argumento só tem razão aparente.

 

A mais recente polémica que teve a liamba no centro envolveu a província de Cabinda. Um deputado na Oposição notou, em pleno debate parlamentar, que, com a chegada de João Lourenço ao poder, o consumo da canábis disparou na província. Uma deputada do MPLA reagiu a quente em defesa do seu presidente e a chefe do parlamento respondeu que esteve em Cabinda e não se apercebeu do aumento da produção ou do consumo da liamba. Mais cómica do que trágica, a reacção dos súbditos de João Lourenço deixou a entender que o Presidente da República estaria a ser responsabilizado directamente pela mudança do quadro da canábis no enclave. Ou, de forma mais precisa, por pouco não sugeriram que seria João Lourenço que teria estimulado ou autorizado, por decreto, o aumento do consumo da liamba na província mais a Norte. Naturalmente, outros ouvidos, salvaguardados da irracional emoção partidária, fizeram uma interpretação diferente. Para estes, o deputado da Unita estabeleceu uma relação de causa-efeito entre o agravamento da degradação da vida dos angolanos e o provável aumento dos níveis de frustração que estarão a levar, no caso de Cabinda, ao consumo desmesurado da (in)desejada planta.