V E

V E

22 Nov. 2023

O SUBMUNDO ANGOLA

É verdadeiramente estarrecedora a forma como a história se repete e como se inova nas suas grandes tragédias. Parte significativa dos angolanos sabe disso de cor e salteado. Há pouco mais de seis anos, viveu a ilusão meteórica da concretização da esperança, enganada por uma narrativa idílica de mudança. Transformações que se desejavam no conjunto da prática institucional e que se julgavam conducentes necessariamente ao paulatino processo de mudança de mentalidades. Ledo engano.

“Com raras excepções, os processos de intervenção do Banco Nacional de Angola na banca têm, historicamente, o traço comum da ausência total de transparência.” Esta foi a frase que abriu o editorial da edição de 6 de Julho de 2021. Desde então, são passados mais de dois anos e três meses e a afirmação mantém-se comprometedoramente válida. A única diferença, que não faz diferença nenhuma, é a mudança formal dos actores. Na altura, José de Lima Massano era formal e materialmente o cerne da questão. Hoje, o BNA tem à testa o governador Tiago Dias, mas, entre vários segmentos intelectualizados, persistem desconfianças legítimas de que Massano continua com larga influência nas decisões de cunho técnico e político no BNA.

 

Falemos do Novo Aeroporto Intenacional de Luanda (NAIL). Ao contrário de certa narrativa disseminada por vozes pró-governamentais, a questão central dos questionamento à nova infra-estrutura, em vésperas de inauguração, não é a sua utilidade. Um país que se posiciona pelo menos no ‘top 5’ das maiores economias da África subsariana merece, no mínimo, algo melhor do que o Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro. Podemos dizê-lo de outra forma. Qualquer meta que o país trace no plano da atracção do investimento privado estrangeiro tem de ter na renovação das suas principais infra-estruturas aeroportuárias uma das prioridades. E o principal aeroporto de Luanda, sendo a principal porta de entrda ao país, coloca-se necessariamente na linha da frente.

Na magistral obra de Catherine Belton ‘Os Homens de Putin’, Sergei Pugachev e Valentin Yumachev brindam nostálgicos sobre o metamorfoseado Vladimir Putin. Yumachev era genro e antigo chefe de gabinete de Boris Ieltsin, o quase tutor de última hora de Putin. Pugachev, por sua vez, era um dos grandes oligarcas russos, entretanto, caído em desgraça e perseguido em toda a linha pelos novos homens de Putin. Curiosamente, Pugachev e Yumachev tinham sido dos principais entusiastas e apoiantes da chegada de Putin à cadeira número um do regime do Kremlin. O mesmo Putin que, aos primeiros passos no poder, se dizia uma espécie de “gerente contratado”, insinuando uma certa relutância em assumir plenamente o posto, ao mesmo tempo que se mostrava “complacente aos que o tinham ajudado a ascender ao poder”.  

“O Valor Económico é um jornal independente de todos os poderes. Defende e cultiva as liberdades de expressão e de imprensa, rejeitando quaisquer formas de censura e/ou de pressão que favoreçam objectivos de pessoas, entidades e/ou grupos, independentemente dos motivos que os sustentam.” Este pedaço de texto resume a questão central que norteia este jornal desde a sua criação há mais de sete anos. É um trecho da ‘bíblia editorial’ do jornal, ou seja, do seu Estatuto, inscrito logo no artigo 2º.