Os “poetas da diversificação”
O agrónomo Fernando Pacheco não poderia ser mais assertivo, no recuso à ironia. Aos ‘novos’ proclamadores da diversificação económica chama-lhes poetas. Nós já o afirmámos aqui vezes sem conta, mas por outras palavras. As questões de fundo que ambos levantámos e até as aparentemente mais paralelas são as mesmas. Pacheco recua até 1975 para lembrar aos poetas que “nunca houve vontade de colocar a agricultura a desempenhar o seu verdadeiro papel”. Dos líricos até se podem esperar respostas com aparente sentido. Há quem eventualmente se precipite a identificar exageros, ao relativizar-se o tempo da guerra nas contas da agricultura. Há quem vá lembrar-se imediatamente de dizer que os 48 anos da Independência não podem ser contabilizados, quando se trata de sumarizar o atraso da agricultura no tempo. Mas este argumento só tem razão aparente.
A mensagem de fundo aos líricos da diversificação pela agricultura não relativiza o factor condicionante guerra. Passa antes a ideia de que, independentemente dos contextos, a mentalidade de quem tem em mãos o poder de decisão não muda. O discurso da diversificação, centrada na agricultura e na indústria, não foi introduzido por João Lourenço, muito menos por José Eduardo dos Santos. Este último tratou apenas de disseminá-lo por razões óbvias, a longevidade no cargo. As ideias iniciais de que o país precisava de uma agricultura robusta, nas figuras presidenciais, começaram com Agostinho Neto. O primeiro Presidente não teve tempo. O segundo ficou tempo bastante à procura da paz e desbloqueou de seguida a desminagem das terras. Sobrou-lhe tempo e dinheiro para lançar as bases de uma agricultura séria, mas não passou da falácia. Os técnicos e políticos que o suportaram ao longo da última década e meia saltaram para o barco de João Lourenço, em 2017. Mas deles não se ouviu nem se viu nada de diferente do que foram repetindo particularmente entre 2008 e 2017. Quem lê a versão de 2009 de Manuel Nunes Júnior sobre a diversificação económica não tem necessidade nenhuma de se preocupar com o que o mesmo disse enquanto esteve a mando de João Lourenço. Tudo igualzinho como gêmeos. Com a diferença de se ter, paradoxalmente, transformado num ferrenho revisionista, mas, sublinhe-se, com o mesmo discurso. Tratá-lo como poeta é uma tremenda generosidade. E quem fala de Nunes Júnior tem autorização para falar do novo homem forte da política fiscal, cambial e monetária.
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