PRESIDENTE NÃO ALIMENTA RUMORES
É um facto oficial que a qualidade da comunicação é um dos focos da governação que, por vontade própria, João Lourenço decidiu relegar para plano nenhum. Numa das suas primeiras conferências de imprensa em Luanda, pouco depois de começar a ‘aquecer’ o cadeirão da presidência, João Lourenço disse alto e bom som que não tinha qualquer obrigação de explicar exonerações e nomeações. Não raras vezes em conflito com a língua, na ocasião, pôs os pés pelas mãos ao justificar a sua sentença.
Mais palavra, menos palavra, Lourenço argumentou que não tinha qualquer obrigação de o fazer, porque o seu antecessor também não o fazia. O que o Presidente não percebeu, na altura, é que a sua defesa colocava em causa toda a narrativa de mudança em que assentava a sua promessa de governação. O Presidente não terá percebido ou terá ignorado que o que estava em causa era uma questão de princípio. Se a ausência de fundamentação das ‘mexidas’ na governação poderia ser explicada com a cultura política, então tudo o resto poderia ser justificado da mesma forma. Nada, rigorosamente nada que fosse no sentido da mudança, faria sentido por culpa do hábito, da cultura ou da prática.
A recente exoneração de Ângelo da Veiga Tavares recorda-nos o problema. Em qualquer realidade minimamente decente, o chefe máximo da Inspecção Geral do Estado não é exonerado seis meses depois de assumir o cargo, sem uma explicação fundamentada à população. Os angolanos mereciam saber pelo Presidente a razão da defenestração do comissário em tão pouco tempo, especialmente pela circunstância de ter estado estado à frente de uma instituição sensível no contexto da actual narrativa governativa. Referimo-nos a uma explicação oficial e formal e não a recados indirectos na tomada de posse do novo inquilino João Pinto. Porque, afinal de contas, se determinada imprensa é condenada quando se baseia em rumores para construir histórias, um Presidente da República digno do cargo não se comunica com a população, alimentando rumores.
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