O FACTO

Jamais a nomeação de uma figura gerou tanta controvérsia, como foi a indicação de Isabel dos Santos para presidente do conselho de administração da Sonangol. Num carnaval de contestação sem precedentes, a presença de Isabel dos Santos na mais estratégica das empresas públicas motivou debates fraturantes na sociedade, gerou processos na justiça e serviu de justificação para o agendamento de manifestação na rua. No caso da disputa judicial, foi ao ponto de, pela primeira vez, levar um tribunal a solicitar esclarecimentos ao Presidente da República sobre um acto de nomeação. Um facto verdadeiramente inédito, ainda que a decisão do Tribunal Supremo tenha sido fortemente criticada por vozes que defendem a legalidade do acto do Presidente e que sugerem que essa instância judicial carece de legitimidade constitucional para requerer explicações sobre uma determinação discricionária de um órgão de soberania.

Isabel dos Santos, em teoria, de forma involuntária, acabou assim por dominar a agenda de 2016, com a particularidade de ter relegado até o tema da crise económica e financeira para segundo plano, especialmente no espaço mediático. Fora do ‘dossier Sonangol’, a empresária apareceu este ano associada a vários outros interesses públicos, como é o caso da Angola Telecom, em que é dada à frente do processo de reestruturação da empresa. Mas foi também este ano que a sua imagem se consolidou na liderança de projectos como o Plano Geral Metropolitano de Luanda, após tê-lo defendido na Televisão Pública de Angola, ou ainda a consumação do controlo de um dos mais importantes bancos angolanos, no caso o BFA, num processo que envolveu uma troca de ‘galhardetes’ com os seus parceiros espanhóis do Grupo La Caixa, no BPI, em Portugal.

É essencialmente por estas razões que, na edição de estreia da ‘Personalidade do Ano’, a presidente do conselho de administração da Sonangol foi a escolhida de forma destacada, como mostra a capa.

Não sendo necessariamente uma distinção de qualidade, a ideia fundamental da iniciativa está associada à identificação da pessoa, grupo, facto ou evento que, por quaisquer razões, mais tenha influenciado, de forma individual, a vida nacional. Em 2016, essa figura foi inquestionavelmente Isabel dos Santos que, na altercação que manteve com alguns órgãos de comunicação social, este ano, não deixou de rotular o VALOR ECONÓMICO com alguns epítetos antipáticos, após o jornal ter divulgado a notícia sobre a apuração de imparidades na Sonangol.

O VALOR ECONÓMICO, tal como se propôs na sua edição de estreia, em Março deste ano, reafirma assim o seu compromisso com a única causa que nos motiva todos os dias, a causa do jornalismo. Uma causa que, agarrada ao rigor dos factos, não se desonera de tomar posições, face ao que realmente interessa na vida dos angolanos. Foi o que fizemos ou tentamos garantir nas 40 edições contabilizadas em 2016.

PS: Por opção editorial, forçada pela paragem para férias colectivas dos colaboradores do jornal, a última edição do ano sai, hoje 5ª. feira, 22 de Dezembro, em vez de segunda-feira, 19, como seria esperado. A primeira edição de 2017 sai assim a 9 de Janeiro. Aos nossos leitores, desejamos Festas Felizes e Próspero Ano Novo!