O GOVERNO E AS CRISES
Em pouco mais de ano e meio de governação, João Lourenço é colocado à prova, através de uma combinação catastrófica de crises que aproximou o país do caos. Antes do alarme do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre o agravamento do desemprego (agora estimado nos 28,8%), os habitantes de Luanda abriram as portas para exibirem a água turva que já vinham consumindo há largos meses. Enquanto isso, a seca ‘fazia das suas’ no Sul e as bombas de combustíveis preparavam-se para provocar filas intermináveis de viaturas por todo o país com os depósitos secos.
No conjunto das crises, o Governo cedeu ao improviso, gerando simultaneamente certezas e dúvidas quanto à qualidade da governação em matérias sensíveis que afectam o quotidiano das populações. A resposta emergencial ao descontrolo do desemprego pareceu precipitada e veio na forma de um programa que, entre outras soluções, pretende distribuir kits profissionais a jovens desempregados. Provavelmente, consciente da incapacidade de a economia gerar emprego, face ao crescimento anémico que se projecta para, pelo menos, os próximos três anos, o Governo avança com alternativas paliativas, descurando soluções de fundo, como uma verdadeira abertura da economia. O exemplo mais recente foi o concurso para a selecção do quarto operador de telecomunicações, em que se ficou a saber, através da Telstar, que o Governo tinha reservado 45% do negócio para uma entidade à sua escolha. O discurso da transparência estava largamente comprometido e a anulação posterior do concurso não melhorou necessariamente a percepção dos investidores em relação ao que estava em causa. Hoje, sobram dúvidas quanto à eventual renovação do interesse por parte de operadores internacionais credíveis.
No caso da seca no Sul, além da reacção tardia do Governo, ficou vincada a ideia de que não haveria consciência da dimensão da desgraça. As palavras do Presidente foram expressivas, ao referir que, após a visita, tinha ficado com a impressão de que o problema era grave. Na verdade, é difícil perceber se se tratou de uma inadequada colocação das palavras ou se, de facto, antes da visita, não havia consciência da gravidade do problema. É óbvio que a segunda hipótese é perturbadora, tratando-se de um fenómeno que se repete todos os anos e que todos os anos dizima milhares de cabeças de gado, além de comprometer outras culturas. Resta aguardar pela solução definitiva prometida para dentro de até quatro anos.
A crise dos combustíveis, por fim, deu a possibilidade a João Lourenço de apontar expressamente um culpado, ao exonerar Carlos Saturnino da liderança da Sonangol. Mas também ao aproveitar para deixar um aviso sério aos gestores que tratam de matérias sensíveis do Estado. Os próximos meses serão determinantes na apuração dos resultados definitivos deste teste de stress.
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