ANGOLA GROWING

O PAÍS REAL

O Presidente da República esteve no Parlamento, na semana passada, para fazer o discurso mais realista desde que foi investido no cargo. João Lourenço optou, desta vez, por assumir um quadro mais próximo daquele que a generalidade dos observadores vem pintando há vários meses. Numa única frase, Lourenço deixou cair por terra a ideia de país “melhor” em 2018 que vendeu, pelo menos, até ao discurso de fim de ano. Talvez por isso mesmo – pelo valor simbólico desta reviravolta na narrativa política – tenha optado por assumir pessoalmente a tarefa de oferecer o verdadeiro ‘presente’ que os angolanos esperam neste ano.

A todos os níveis foi, indiscutivelmente, a atitude mais correcta do Presidente. Vender gato por lebre, numa altura de verdadeira aflição, colocaria a bonança ao alcance de curto prazo, o que seria necessariamente contrariado pela realidade económica, levando à frustração colectiva. Ao apresentar o verdadeiro país que se espera em 2018, o Presidente da República, pelo menos em termos psicológicos, prepara os angolanos no sentido de que, não tendo convidado formalmente o Fundo Monetário Internacional, o próprio Governo levou a tesourada ao limite do suportável.

O primeiro sinal chegou antes da aprovação do Orçamento, com o BNA a optar por deixar o mercado definir a taxa de câmbio, numa altura de forte escassez de divisas. As consequências eram óbvias. Perdas de valor consecutivas nos mercados formal e informal. Para as famílias, especialmente as mais desfavorecidas, o poder de compra ultrapassa as fonteiras do miserável, já que conta com a agravante de resolver a vida no mercado informal, onde as regras mudam ao sabor do vento.

Mas isso não era tudo. Ao já impossível confronto com o disparo generalizado dos preços, o Governo anuncia um plano de manutenção dos cortes progressivos em bens hoje de primeira necessidade, entre os quais a eletricidade e os combustíveis. Não podemos deixar de incluir no pacote da ‘austeridade’ as ideias do Governo de tornar ainda mais eficaz a pressão sobre os contribuintes, em matéria de arrecadação de impostos. Tudo isso combinado jamais poderia dar num 2018 melhor do que foi o 2017. Se a médio prazo se espera pelos primeiros resultados deste conjunto de ajustamentos de políticas económicas e macroeconómicas, 2018 tem de ficar necessariamente fora do pacote ‘anos maravilha’.

O que se espera, em termos imediatos, é o aprofundamento da pobreza das classes mais desfavorecidas e o afunilamento do embrião de classe média que se vem formando nos últimos anos. Com a miserabilização dos rendimentos, compreendem-se os receios dos que temem pelo pior. Sobretudo porque a convicção do Governo em relação à protecção dos mais desfavorecidos, face ao seu plano de austeridade, não irradia confiança nas populações. E não é apenas pela percepção da ausência de soluções mágicas. É também pelo facto de o próprio Governo não conseguir explicá-lo (esse ‘projecto’ de protecção aos mais desfavorecidos) de forma convincente.