O que aproveitar do normal imposto pela Covid-19

27 May. 2020 César Silveira Opinião

Algumas acções, criações e normais pontuais impostos pelo Estado de Emergência, agora substituído pelo Estado de Calamidade, devem, definitivamente, fazer parte do normal daqui para frente pelas vantagens e sucessos.

Hoje o foco será para questões menos macro depois de, neste mesmo espaço, termos lamentando o facto de ter sido graças à Covid-19 que o Governo vai tomando medidas que já deveriam fazer parte do normal da governação. A redução do aparelho administrativo com foco na redução nas despesas públicas foi um dos exemplos nesta ocasião em que se apelou também para a necessidade de as boas medidas manterem-se no pós-pandemia mesmo que a conjuntura economia venha a ser favorável.   

Hoje um dos destaques vai para a provada capacidade do trabalhador angolano trabalhar longe da fiscalização física do chefe o que até então parecia de todo impossível, justificando-se com a obsessão em manter os horários pelas empresas. Muitas vezes criticados pela suposta irresponsabilidade, o trabalhador angolano mostrou ser capaz de trabalhar sem a supervisão física do chefe. Fica claro ser possível aplicar nas empresas o principio segundo qual “mais contam as horas que dedicas ao trabalho do que as horas que ficas no trabalho”. A prática devidamente aplicada pode representar redução de custos operacionais para as empresas. Aliás a sua aplicação não seria novidade de todo em Angola visto ser já uma prática na Sonangol.

O período também mostrou que não passava de atraso a resistência que se fazia ao ensino à distância que pode ser mais uma oportunidade para as instituições de ensino. Muitas, certamente, viram estudantes desistirem por incompatibilidade dos horários ou necessidade de se ausentarem do país ou da província onde a instituição está presente. É hora destas instituições investirem neste modelo, procurando ou não parcerias com instituições especializadas e tornarem o ensino à distância um modelo normal, explorando as inúmeras oportunidades como é a possibilidade de se colocarem na condição de directas de instituições localizadas em outras partes do mundo, podendo crescer face aos desafios próprios da concorrência. 

Há outras vantagens desta face que podem ser destacadas, desde logo, o investimento nas tecnologias por parte das empresas. A crescente corrente no mercado de vendas online e entregas ao domicílio devem passar a ser o normal.  E há mais. Assistir, por exemplo, o espetáculo musical como foi ao da ARY, numa parceria entre a Zap e a Luandina, não pode ser apenas um normal para momentos normais. Projectos semelhantes podem e devem continuar pois existe sempre quem esteja impedido de se deslocar para assistir ao vivo ou até prefira assistir a partir do sofá.

 

 

César Silveira

César Silveira

Editor Executivo do Valor Económico