ANGOLA GROWING

O RECADO DOS NÚMEROS

Quando Isabel dos Santos foi formalizada como presidente do conselho de administração (PCA) da Sonangol, o país fracturou-se, com críticas e elogios desencontrados que pareciam não ter fim à vista. A contestação concentrou-se, essencialmente, em dois aspectos.

Um de dimensão técnica, que colocava dúvidas quanto à capacidade da empresária de conduzir uma gigante como a Sonangol, uma vez que não lhe era reconhecido qualquer registo de relevo no CV, em matéria de gestão directa de empresas.

Outro de natureza ética que se fundamentava, sobretudo, nas ligações que os interesses pessoais de Isabel dos Santos já mantinham com a Sonangol. Uma terceira linha de crítica, menos cimentada, mas também ligada ao quesito ético, apontava a relação parental da empresária com o chefe do Executivo.

No rol da crítica, não nos mantivemos indiferentes. Assumimos o lado da contestação, mas limitando-nos exclusivamente na questão ética, relacionada com a potencial promiscuidade entre o interesse público e o privado. Declinámos sempre as outras duas narrativas de contestação e, em várias oportunidades, explicámos os porquês. Primeiramente, e ainda que não se lhe reconhecessem cargos de gestão nas suas empresas, toda a gente sempre soube que Isabel dos Santos gira à volta dos grandes negócios há muitos anos.

Em bom rigor, e olhando para o seu portefólio de negócios, provavelmente não há um único angolano, no sector privado, que alguma vez negociou os números a que Isabel dos Santos estava habituada. Isso era razão mais do que suficiente para se relativizarem as críticas que assentavam na componente técnica.

Em relação ao parentesco ao Presidente da República, a discussão teve de elevar-se para a hermenêutica das leis e, ao que ficou provado, os defensores da ilegalidade da nomeação não tiveram argumentos para contrariar, de forma fundamentada, os pareceres jurídicos que validavam o acto discricionário de José Eduardo dos Santos, no ano passado.

Com a publicação dos resultados da Sonangol do exercício de 2016 – os primeiros da Era Isabel dos Santos – reabre-se necessariamente o debate sobre os lados da razão. E fica aparentemente o recado de que as dúvidas atreladas na capacidade da gestora estariam provavelmente equivocadas.

Independentemente da explicação do desempenho do resultado operacional, é facto que este indicador cresceu de forma significativa, fazendo fé nos números apresentados. E cresceu em níveis nada esperados, considerando os indicadores agregados do país que apontaram uma quebra de 3,3% no produto interno bruto.

Se é um facto que o resultado operacional foi empurrado mais pela receita do que pela redução da despesa, não seria menos expectável que uma gestão menos prudente anulasse o crescimento registado, com algum descontrolo nos gastos, como é, de resto, histórico na gestão da companhia, mesmo em momentos mais conturbados do petróleo.

Isabel dos Santos, salvo prova em contrário, deixa assim, neste exercício, uma palavra forte sobre a razão das reformas que empreende na companhia, que já levaram a petrolífera a aplicar mais de 96% dos investimentos, em 2016, no negócio core.

E, como já explicado numa oportunidade diferente, parece legitimar as suas críticas contra a gestão dos 15 anos anteriores à sua chegada à Sonangol. Há, de certa forma, ainda histórias para contar.